Fomos até o IBVF, falar com a Vera Figueiredo, que nos recebeu para esse bate-papo muito bacana e contou algumas curiosidades da sua carreira como baterista.
Soundcheck: Como surgiu o interesse pela bateria?
Vera: Pois é, acho que a bateria que chegou até mim! (risos)
Eu era muito pequena, quando me interessei pela bateria… Ficava em casa, tocando com as colheres de madeira, que eu usava como baquetas. Aqueles tamancos, também de madeira, que faziam “toc, toc, toc” eu usava de pedal, tampas de panelas, balde… essa era minha bateria e nessa brincadeira, foram anos!
“Minha mãe, coitadinha, era quem escutava
e aguentava tudo aquilo!”
Até que, com 8 anos, de tanto pedir, pedir, pedir… meu pai acabou me dando a primeira bateria!
Soundcheck: Você começou a estudar bateria nessa época?
Vera: Por uma condição da minha mãe, me formei em piano clássico no “Conservatório Musical Santa Cecília da Capital”, mas a bateria sempre falava mais alto e, em paralelo as aulas de piano, fazia aulas de batera em casa.
Com 16 anos, resolvi estudar bateria com o Rubinho Barsotti (baterista) do “Zimbo Trio”, no “CLAM – Centro Livre de Aprendizagem Musical”… foi a primeira Escola de música popular. Onde precisei esperar por mais de anos por uma vaga, era super concorrido… mas consegui!
Soundcheck: Pelo fato de ser mulher, encontrou algumas barreiras como baterista?
Vera: Para mim, sempre foi muito natural… tiveram os prós e os contras!
Vejo que independente de ser homem ou mulher as dificuldades são as mesmas. Eu sempre estive lá, dando uma canjinha aqui, outra ali.
“ Acho que você se firma na profissão pela competência
e não pelo fato de ser homem ou mulher.”
Soundcheck: Quais foram suas influências?
Vera: Eu sempre fui roqueira, cresci escutando isso… foi minha escola durante um bom tempo!
Mas foi a Bossa Nova, exatamente na época do Zimbo Trio, que me chamou muito a atenção… a maneira de tocar era algo diferente!
Foi vendo tudo aquilo que fui estudar com o Rubinho. Foram dois anos e meio de muita modificação… aprendi muito sobre música brasileira, jazz, improvisação… foi um marco na minha vida musical e pessoal também. Ali conheci muita gente legal, muitos músicos bons e dali, saí para o mundo e comecei a tocar.
Soundcheck: Trabalhar com diversos gêneros musicais, contribuiu para sua carreira?
Vera: A partir desse momento mudou um pouco meu perfil, do rock fui para a música brasileira, jazz e comecei a fazer alguns trabalhos de música instrumental.
Comecei a tocar com muita gente, como o Arismar do Espírito Santo, Silvia Goes (pianista), Ritchie (Cantor)… com a Orquestra da Avon, quando fui membro, acompanhei Diana King, Zélia Duncan, Nana Caymmi, Daniela Mercury, Milton Nascimento, Rita Lee, Leila Pinheiro, Margareth Menezes…
Soundcheck: Como foi entrar para esse outro universo, a música sinfônica?
Vera: Por indicação do próprio CLAM… na época cheguei a ficar até surpresa, por que nunca tinha imaginado tocar em uma orquestra. Mas como eu tinha conhecimento teórico, de quando estudei piano, fui lá, me inscrevi, fiz o teste e passei.
O professor era um americano, o John Boudler, que tinha vindo dos Estados Unidos, para esse curso. Foi um mês intensivo de aulas, fiz o que não tinha feito em um ano e meio estudando percussão em outros lugares.
Passado esse período, fui imediatamente para o curso livre da UNESP, continuar os estudos com ele, que ficaria no Brasil dando cursos. A partir daí, o John foi meu professor de percussão sinfônica… algo que também mudou minha vida!
E quando abriu as inscrições para a Orquestra Juvenil do Estado de São Paulo, entre uns trinta e poucos percussionistas, eu passei em primeiro lugar! Não era uma coisa que eu queria, mas ele insistiu tanto que acabei indo fazer o teste, passei e acabei ficando por lá dois anos.
Soundcheck: Seu destaque internacional como baterista, aconteceu a partir de qual momento?
Vera: O meu segundo disco, o “From Brazil”, já tinha rendido alguns shows em Los Angeles e um tour com o Virgil Donati, por todo o Reino Unido… foi demais!
Um outro ponto alto, veio com meu terceiro disco “Vera Cruz Island”, que me levou para muitos festivais fora do Brasil. Um disco com participações de muitos músicos brasileiros e internacionais como: Mike Stern (guitarrista), Dennis Chambers (baterista), Virgil Donati (baterista), Dave Weckl (baterista)… Esse foi o disco que deu uma alavancada em tudo.
Mais tarde fiz o livro junto o Daniel Oliveira, também chamado “Vera Cruz Island” com edição somente em inglês lançado pela Hudson Music. O livro contém um cd com 13 músicas com bateria e 13 sem a bateria… para o baterista poder tocar junto. Além da análise de cada música com a partitura.
Soundcheck: Sempre gostou de dar aulas?
Vera: Sempre dei aulas… o pessoal me vendo tocar, curtia e me procurava para dar aulas.
Mas em um belo dia, percebi que não queria passar o resto da minha vida tocando em bares e decidi montar uma escola e sair da noite.
E assim foi indo… fazendo os meus trabalhos, livros, dando aulas, cuidando da escola… e tocando sempre!
Soundcheck: Qual o objetivo do “Batuka!”?
Vera: O “Batuka!” é um festival que nasceu para revelar novos talentos da música. Um festival que é preciso tocar mesmo… é para quem faz arte tocando bateria. Então, o cara ou a cara, tem que estudar e ser virtuoso, para levar o festival… é preciso ultrapassar os próprios limites!
“ É preciso amar o que faz! ”
Hoje, estamos preparando a nova edição do Festival, que já destacou muitos músicos, como: Rafael Barata, Igor Willcox, Elóy Casagrande, Sandro Moreno…
Soundcheck: O que foi para você ter trabalhado na Rede Globo e no Altas Horas?
Vera: Fiquei quinze anos lá, desde o início do programa. Aconteceram muitas coisas interessantes… musicalmente um mundo com uma dinâmica completamente diferente.
Eu gostava quando tinham os especiais, podia tocar mais, produzir mais, tocávamos músicas inteiras. Em uma semana chegamos a tocar 35, entre músicas e vinhetas. Sempre precisávamos estar preparadas para as mudanças de última hora. Quando o Serginho chamava, por exemplo, um intervalo, eu precisava dar a contagem. Sempre tínhamos algumas cartas na manga!
Soundcheck: Projetos futuros?
Vera: Estou com um trio de música instrumental brasileira, que estamos prestes a gravar um CD e DVD dos shows que já estamos fazendo. E este ano já estou trabalhando para a 15ª edição do “Batuka!”.
Vera, muito obrigado por receber nossa equipe para esse bate-papo! Ah… aproveitando a oportunidade, queremos acompanhar os bastidores do festival e bater um papo com o próximo ganhador, claro! Foi um prazer conhece-la! Vlw
Gostou desse bate-papo?
Comente, curta e compartilhe!