Encontramos Guga Machado em uma “padoca” após um longo dia de ensaio, na Rua Teodoro Sampaio (Acho que podemos parar por aqui? Qual músico já não perdeu as contas das histórias vividas nessa região tão familiar para todos!!). Confira em detalhes a trajetória desse peculiar percussionista que vem se destacando na cena musical brasileira!
Soundcheck: Como surgiu a percussão na sua vida?
Guga: Comecei a tocar em 98, em uma apresentação da banda de rock dos amigos do clube. Falei brincando que queria tocar!! Como a banda já tinha, duas guitarras, teclado, baixo e batera e eles disseram que no repertório tinha Nega Jurema do Raimundos, fui tocar triângulo.
Fiquei encantado com aquele mundo dos festivais, bandas, backstage… achei tudo muito maneiro e na mesma época fui ao show dos Paralamas do Sucesso, Tour Nove Luas. Lá conheci o Eduardo Lyra (percussionista), fiquei alucinado com aquilo.
Depois de um tempo fui fazer aulas com o Aluá Nascimento (percussionista), filho do Dinho Nascimento (percussionista).
Agora no Rock in Rio, dividi o palco com o Fred Castro (baterista). Tive a oportunidade de contar para ele, que a primeira música que toquei na minha vida foi Nega Jurema.
Soundcheck: Como foi a sua profissionalização?
Guga: Aqui em São Paulo, entre a molecada, poucos tocam percussão. Assim que comecei a estudar, as bandas dos amigos começaram a me chamar!
Nessa época eu tinha um blog/site, consegui fazer contato com a Lan Lan (percussionista), que tocava com a Cássia Eller com a desculpa que queria publicar algumas coisas sobre ela. Sempre fui, cara de pau!!
O Eduardo Lyra, a Lan Lan e a Tamima (percussionistas), me acolheram e começaram a me levar para os shows. Conviver com toda essa galera que já era alto nível, e também, ver como funcionava esse lance de bastidores, viagens, programas de tv… fiquei alucinado neh cara!
Pouco depois, recebi o convite para tocar com o Carlos Navas e lá fiquei por quase 10 anos, foi um cara que me ensinou muito, me abriu a cabeça para outros sons que até então não ouvia. Momento de muita importância para mim!
Nesse tempo comecei a trabalhar com mais uma galera que foi surgindo através do Navas e de outros contatos também.
Soundcheck: Você traz na bagagem influências do estilo e da musicalidade de toda essa galera que te ajudou no inicio?
Guga: A influência é certa, sem dúvida. Tanto da Lan Lan, quanto do Lyra e de todos eles… meus amigos até hoje!
Toda essa influência que se adquire lá atrás eu acho impossível você perder. Depois de um tempo você começa a desenvolver um jeito de tocar que foi acontecendo naturalmente e o que eu acho muito importante para um músico… originalidade.
No lançamento do meu disco em 2012, chamei todos eles para participar dos meus shows, a Lan Lan em São Paulo e o Lyra no Rio.
Um fato curioso é que quando fomos ensaiar, tinha uma levada que o Lyra me perguntou como era. E eu disse: – é a levada de Lourinha Bombril… peguei de você!
Soundcheck: Sua personalidade é algo marcante, você tem consciência disso?
Guga: Acho fundamental ter uma identidade! Sempre falo isso quando me perguntam. Temos que fugir do que os outros fazem, não que você tenha que ser diferente, só por ser.
Ter uma linguagem própria, vale até para os instrumentos… Evito sets tradicionais com duas congas, bongo, timbales… Fui encontrando cada instrumento aos poucos e vou incluindo nos sets que estou utilizando.
Aqui no Paulo Ricardo eu utilizo um set diferente… latas, alfaia, djembê, timbales, pratos, muitos efeitos e alguns sons eletrônicos.
Já no Tiago Abravanel é um set um pouco mais tradicional, com duas congas, timbales, djembê, efeitos e alguns eletrônicos.
Nos meninos da Fly, como não tem batera, eu já utilizo uma percuteria com cajón, caixa com oruga, efeitos e pratos.
Soundcheck: Como é tocar com vários artistas de estilos completamente diferente?
Guga: Hoje isso é uma necessidade! Para um bom músico, ou para quem quer ser um bom musico, é preciso tocar de tudo.
Esses dias, até comentei sobre isso! Na semana do Rock in Rio, por exemplo, fiz um show de Heavy Metal, no dia seguinte fiz o meu espetáculo de dança, no domingo tinha Baile do Abrava e chegando em São Paulo tive ensaio com a Banda Flay.
Existe uma necessidade de você saber transitar entre os ritmos e gêneros, embora para alguns você não tenha a linguagem, mas é preciso conhecer, experimentar!
Soundcheck: Qual a representatividade do “Mafagafo Jazz” na sua carreira?
Guga: A maior satisfação que eu tive até hoje foi gravar meu disco, nunca tive nada igual, por que foi um apanhado de tudo que aprendi.
Foi um ponto de virada, sem eu saber e sem pretensão nenhuma!
A oportunidade surgiu, comecei a gravar algumas ideias junto com os amigos e a coisa começou a tomar forma, quando vi, tinha duas músicas, depois um EP e foi indo.
Um trabalho coletivo que chegou onde eu queria, com várias influências e que fiz do jeito que eu soube fazer, do jeito que eu sou. Talvez por isso ficou um disco verdadeiro.
Tive uma puta surpresa, ao ser indicado para o Prêmio da Música Brasileira. Não imaginava que daria nisso, tanto é que nem me inscrevi. Para um disco com uma tiragem de duas mil cópias… foi um presente!
Depois de sair na relação dos pré-indicados, recebi uma ligação, informando que meu disco era finalista do prêmio. Cheguei a chorar no telefone!
Agora estou gravando o segundo, uma parceria com Renato Galozzi e muitas participações. Quero fazer para o resto da minha vida, coisas assim, da forma que eu sinto!
Fazendo com verdade, vai ficar bom!
Soundcheck: Quais outros momentos marcaram a sua carreira?
Guga: Não quero ser indelicado com ninguém, mas tem momentos que são únicos e talvez não se repitam. Além do meu disco, o Rock in Rio esse ano e o show que eu fiz com o Toquinho no Central Park em Nova York, foram diferentes de tudo que eu já tinha feito até então.
Guga agradecemos por nos contar um pouco da sua trajetória, e ficamos no aguardo para que possamos mostrar mais detalhes de como está sendo produzido o seu próximo disco.
Foto de Destaque –Thiago Prado
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