Esse bate-papo não poderia ter acontecido em um lugar melhor. Nos encontramos com Naná no famoso “Bar do Biu”, em Pinheiros, em uma quinta-feira a noite, dia de acarajé e para acompanhar aquela cervejinha gelada. Para quem não conhece, saibam que não existe lugar melhor para um verdadeiro papo de músico!
Soundcheck: Quem é Naná Aragão?
Naná: Sou o único filho de uma família de nordestinos que nasceu aqui em São Paulo.
Descobri o instrumento com aproximadamente 13 anos de idade, sozinho. Meus pais vinham de um universo completamente diferente de uma cidade grande. E de repente falar para eles que queria ser uma coisa eles nem sabiam o que era… assim, para eles e, acho, que para qualquer pessoa nessa condição, naturalmente acreditavam ser uma coisa ruim. Se não for o que eles entendem ser algo bom, já acham que você vai ser um vagabundo, enfim…
A minha história com a bateria começou assim. Gostava de ouvir muita música, nessa pré-adolescência comecei como todo mundo, ouvindo muito rock, como: Iron Maiden, Metallica… com isso me apaixonei pelo instrumento.
Soundcheck: Quando conseguiu comprar sua primeira bateria?
Naná: Comecei a trabalhar muito cedo, com treze anos já trabalhava de Office Boy e, depois de muito custo, com 15 anos de idade, consegui comprar minha primeira bateria.
Foi um puta trauma em casa, aquela coisa toda! Meu pai querendo me botar para fora de casa, por que na concepção dele, um músico… enfim! Aos trancos e barrancos eu comecei a tocar sozinho. Lógico, dentro daquilo que é a capacidade de alguém que ouve e tenta copiar alguma coisa.
Soundcheck: Você é um músico autodidata?
Naná: Depois, um pouco mais velho, fui estudar música com o Duda Neves, que é uma das minhas maiores influências na bateria… um músico que sempre admirei muito pelo seu histórico e também por ser um ótimo professor.
Quando comecei a estudar com ele, descobri que minha paixão não era só rock, era uma paixão pelo instrumento e isso foi um divisor de águas para mim. Comecei, a partir daí, olhar para vários outros estilos.
“A paixão não era pelo rock, e sim pela bateria”
Com isso, comecei a prestar atenção nos bateristas que tocavam samba, salsa, e tudo quanto era estilo e descobri, realmente, que era apaixonado pelo instrumento e que queria viver de música, ser um profissional da área.
Soundcheck: Quando resolveu se dedicar 100% ao instrumento?
Naná: Por volta dos meus 21 anos, já casado e com um filho… mesmo já sendo pai, não conseguia tirar a cabeça da música.
Estudei administração e trabalhei até meus 26 anos, em uma editora de livros, onde cresci muito rápido, devido a esse meu perfil virginiano de querer fazer tudo muito certo e detalhista… até pela necessidade, trabalhava como um louco.
O fato é que com meus 25 anos, mais ou menos, já com um cargo bacana, cursando administração, mas extremamente traumatizado com a vida que estava levando e até mesmo sem saber o por que. Bom, na época eu até tinha uma condição financeira boa, uma família que, para os padrões, estava tudo certo, mas tinha uma angústia muito grande dentro de mim. Acabei decidindo por investir em uma terapia e lá descobri que estava tudo errado.
Foi aí que todo mundo fala que foi o período que eu enlouqueci! Terminei casamento, pedi as contas no emprego, tudo na mesma semana para ir tocar bateria.
Soundcheck: E como foi esse início na bateria?
Naná: Logo depois dessa mudança toda, vi um anúncio de uma baterista louco, o Dino Verdade, em Brasília, que queria reunir um monte de baterista para fazer uma orquestra e tal…
Foi a primeira vez que ele teve a idéia de criar uma orquestra de bateria. Nem existia o nome de Bateras 100% Brasil, ainda. Na época como estava com melhores condições, fiz o contato com ele que me passou as partituras desse possível primeiro encontro, estudei essas partituras, com o Duda Neves, e fui para Brasília. Tudo por conta própria, para participar da primeira edição do encontro, e de lá para cá, nunca mais parei.
E por conta disso, que nasceu uma amizade entre a gente, nem só pela questão musical mas pelo indivíduo, pela pessoa que é o Dino… hoje, meu melhor amigo!
Soundcheck: Quando começou sua trajetória profissional com a bateria?
Naná: Comecei a me envolver com essa história do Bateras 100% Brasil, e coincidiu com a época que o Dino Verdade veio para São Paulo e abriu o Bateras Beat, unidade Pinheiros, e a partir daí, comecei a minha trajetória profissional.
Eu tinha estudado, até então, uns cinco anos com o Duda. Mas claro, quem estuda sabe que existe uma diferença entre estudar e tocar. Hoje como professor, conheço muito bem essa diferença.
Quando me inseri nesse contexto, do Bateras Beat, que é uma escola muito séria, me obrigou a evoluir muito. E vi que todo aquele tempo estudando, não passava de seis meses de estudo real. Com isso, comecei do zero, peguei toda a metodologia do Bateras Beat e engoli… estudava uma média de 8 horas por dia. O dia inteiro na verdade!
E então, com uns dois, três anos, andei o que eu não tinha andado em dez. Engoli a metodologia inteira e fiquei inserido nesse contexto das aulas. Tanto é que ajudei o Dino, nesses anos todos, a desenvolver as metodologias do Bateras, onde estou, hoje, a frente da coordenação.
Soundcheck: Mesmo iniciando, relativamente tarde, como conseguiu se destacar no meio musical?
Naná: Sempre tratei as coisas com muita seriedade e respeito, até mesmo as bandas pequenas que me faziam convite para tocar. Eu tirava as músicas, ia aos ensaios, tinha o hábito de escrever… tudo sempre com muita seriedade.
Isso, naturalmente, não só comigo, mas com qualquer um, que se dedica para fazer alguma coisa bem-feita, acaba se destacando…você vai tocar e os outros músicos te vendo tocando legal, acabam fazendo convites e assim vai.
Soundcheck: Tocar na noite, te ajudou no seu processo de evolução?
Naná: Toquei com muitas bandas! Devo ter passado uns cinco anos tocando na noite, que para mim é uma das maiores escolas e que todo músico sabe disso. Passei todo esse tempo, tocando de Samba a Polca Paraguaia.
Como eu vivia disso! Não podia me dar ao luxo de chegar alguém procurando um baterista para tocar samba e dizer: “Aqui é Rock`n`Roll”. Procurei me preparar para tentar ser um sideman com a capacidade de realmente acompanhar e me virar em qualquer situação.
Sim, você acaba se especializando em determinadas coisas, mas pelo menos um conhecimento mínimo de vários outros estilos você precisa ter. Nessa trajetória, também, fui aprendendo o que é ser um músico de estúdio, um músico da noite…
Soundcheck: Quando foi seu primeiro contato com o Alma Djem?
Naná: Ralando na noite, também me levou começar a trabalhar como roadie.
Quando o Alma Djem veio para São Paulo, convidaram o Dino para ser o baterista. Gravaram o segundo disco da banda, um dos discos que eu mais idolatro, eu me apaixonei pelo Alma Djem, pelas composições… como todo mundo que teve contato com o Alma, que acho difícil não gostar.
Bom, eu vivi tudo isso como roadie, e tanto é que muitas oportunidades apareceram, sendo roadie deles. Teve até uma vez passando o som da batera, lá em Palmas – TO, que chegou um cara achando que eu era o Dino Verdade e disse que eu só estava ali passando o som, que era o roadie e o cara ficou espantado. Fiquei muito feliz, com aquilo!
Soundcheck: Trabalhando como roadie, além de trabalhar com o Alma Djem, conseguiu outras oportunidades?
Naná: Trabalhando como roadie, surgiu convites para tocar com vários artistas, como o Mário Velloso, que toquei durante muito tempo, Brasil a fora. Toquei com as irmãs gêmeas da Mtv que formavam a KSis, e assim fui com uma série de outros artistas e as bandas da noite que eu nunca deixei de fazer.
Soundcheck: Como aconteceu seu ingresso no Maskavo?
Naná: Um certo dia pintou um convite para fazer um teste na banda Maskavo, uma das maiores bandas de reggae do pais… O convite partiu de um amigo, o Tobé, que era técnico de áudio, na época. Bom, fui lá, fiz o teste, os caras gostaram, me aprovaram e durante cinco anos toquei com eles.
Lá pude ver bem de perto, como é esse universo, desde o trabalho do carregador, do músico contratado, do músico que é o dono do negócio…
Com eles viajei o Brasil todo e conheci o Japão… foi um período maravilhoso, que eu tenho muita gratidão.
Soundcheck: O que você acredita ter feito para hoje ter esse reconhecimento como baterista, principalmente no reggae?
Naná: Tocar com o Maskavo, foi uma escola! Até então, o reggae era uma coisa estranha para mim, já conhecia, mas não era o som que eu mais ouvia. E naturalmente entrando nesse contexto, comecei a estudar desde o bê-á-bá.
Estou completando nove anos inserido no reggae, e esse reconhecimento é inevitável. As pessoas que conhecem ou estudam o instrumento, conseguem detectar que você estudou bastante e se mantém atualizado da linguagem. Mas te digo que a única coisa que eu fiz no reggae, foi fazer o que todo mundo já faz, copiar os grandes nomes, como “Wailers”, a banda que acompanhou o Bob Marley, e que é considerada a escola primária do reggae. E eu ouvi muito esses caras!
Hoje procuro não só escutar o que chamamos de reggae roots, mas também muita coisa moderna, por influências, até mesmo, do próprio Marcelo Mira, e não somente reggae, vários outros estilos musicais.
Soundcheck: Você já tem uma ligação com o Alma Djem a algum tempo, como foi ser convidado para ser um dos integrantes?
Naná: Por decisão comum dos integrantes, na época, resolveram fazer uma pausa, e cada um seguiu para um lado, enfim.
O fato é que há dois anos atrás o Marcelo Mira reuniu todos eles, dizendo que queria voltar com a banda. Coincidentemente eu tinha recém saído do Maskavo, e o Marcelo quando soube disso, já conhecendo minha história no reggae, e querendo trazer o Alma novamente mais para esse contexto, me fez o convite. Particularmente, fiquei muito honrado, não só pelo gosto pessoal, mas por ser uma banda que sempre se destacou muito pelo play.
Soundcheck: Como foi chegar até esse momento, com um DVD?
Naná: Até então tínhamos gravados somente singles. Enxergávamos uma necessidade, nesses dois primeiros anos, de trabalhar melhor todo o material que já tinha sido feito pelo Alma.
Agora estamos em um novo momento, que surgiu com a oportunidade de fazer um DVD. Pelo fato de ser o primeiro da banda, veio a ideia de fazer um registro das músicas mais conhecidas e que tivesse feito parte da história do Alma. Claro, junto com isso, achamos espaços para incluir alguns dos singles e também convidar outras pessoas que também fizeram parte dessa história.
Com essa oportunidade, gravamos o primeiro DVD em Brasília. Que está no forno… prestes a sair!
Soundcheck: Tem algum teaser, que o público possa sentir o que esta por vim, nesse DVD?
Naná: Lançamos na última sexta-feira o single “Minha Voz” para anunciar o DVD. É uma música onde todos os convidados do DVD participam e que acreditamos que essa é uma música que representa muito o Alma Djem e também, por ter muito mais para oferecer… é uma música perfeita!
Alma Djem – Minha Voz (Ao Vivo no Lago Paranoa)➸ 1º SINGLE DO DVD AO VIVO NO AR!
Estamos muito felizes em soltar esse som que acabou de sair do forno!O #DvdAlmaAoVivo foi gravado em Brasília no Lago Paranoa e teve participações especiais de Armandinho, Alexandre Carlo (Natiruts), Tato ( Banda Falamansa), Ivo Mozart e Lanlan (Moinho e Cássia Eller)! Uou!
Mais atual do que nunca, o clipe e a música ‘MINHA VOZ’ estão disponíveis em todas as plataformas digitais! Se gostou, compartilhe e não se esqueça de seguir o Alma nas redes sociais! ✌♡
#DvdAlmaAoVivo #MinhaVoz #oquedeixasuaalmalivre #LagoParanoa
Publicado por Alma Djem em Sexta, 18 de março de 2016
Soundcheck: O que está sendo, para você, fazer parte do Alma Djem?
Naná: O Alma tem sido um trabalho mágico, primeiro por ter tido a oportunidade de receber o convite para participar de um trabalho do qual você já era fã, acho que isso coroa meu esforço e toda a ralação, que só quem é músico no Brasil sabe como é.
Ainda quero conquistar muitas coisas na minha vida, claro. Mas essa conquista de estar no Alma Djem, é mérito do meu esforço e do meu trabalho. Daquilo que eu fiz, não só como músico, mas também, como pessoa.
Hoje, só tocar bem, não é mais o fator que determina quem entra em um trabalho ou não. Você pode até tocar horrores, mas sem uma postura como pessoa, profissional… você não consegue nada!
Soundcheck: Valeu a pena todo o empenho, esforço e sacrifícios, para chegar até aqui?
Naná: Naquela minha experiência anterior, o meu dinheiro parece que não tinha valor e eu não era feliz comigo mesmo, mesmo hoje, não estando onde ainda quero chegar, vejo que tudo que eu tenho, veio tocando bateria, seja como professor, músico… no contexto que for, tudo que eu tenho vem daquilo que eu mais amo, a bateria.
Hoje sou endorse da “Pearl Drums”, a marca de bateria que a minha vida toda fui apaixonado. Também da maior marca de prato nacional “Orion Cymbals”, que praticamente domina o mercado mundial de B8 e as “Baquetas Alba”, que só trabalha com madeira nacional e não deixa nada a desejar para nenhuma outra marca. Todas essas parcerias eu também conquistei pelo meu mérito.
Então hoje, eu me sinto muito confortável onde estou, pela banda onde eu toco, pelo papel que desempenho no Bateras Beat… enfim. Devo muito a todas as pessoas que me ajudaram, principalmente o Bateras Beat e ao Dino Verdade, que sempre me ajudaram.
“Oportunidade todo mundo tem, aproveita quem quer!”
Você precisa estar no lugar certo, na hora certa, mas precisa estar capacitado para fazer as coisas. E eu sempre tentei aproveitar todas essas oportunidades com meu empenho e dedicação, para fazer com que as coisas acontecessem.
Naná, muito obrigado por bater esse papo com a gente e compartilhar todas essas histórias, que, com certeza, vão inspirar muitas pessoas a acreditar em seus sonhos e começar a se dedicar a ele. E quando precisar de parceiro para seus projetos, conte a gente! Vlw
Foto – Bruno Polengo
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