Um bate-papo típico entre campo-grandenses, regado a muito tereré e boa música, é claro! Assim foi o papo de músico com Marcelo Ribeiro que nos contou algumas curiosidades da sua carreira.
Soundcheck: Como surgiu seu interesse pelo contrabaixo?
Marcelo: Sempre tive contato com a música através do violão, meus tios e primos sempre tocaram e em casa sempre tinha um violão.
Como andava para cima e para baixo com dois primos que formavam uma dupla, um amigo deles, o saudoso Orlando Brito, sugeriu que eu começasse a tocar contrabaixo!
Acabei ganhando algumas noções de música com as aulas que tive com Edson Di Carvalho “Kid” e com o Orlando, até por que fomos tocar juntos na banda que meus primos montaram, isso com 13 para 14 anos.
Daí em diante, é o instrumento que eu toco profissionalmente!
Soundcheck: Quando foi que você se viu vivendo exclusivamente de música?
Marcelo: Já comecei tocando profissionalmente, lá na época com meus primos eu já tinha cachê e o compromisso de tocar com eles. Mas foi quando parei de tocar com eles que me vi em uma encruzilhada. Não sabia se continuava tocando, se me alistava ou ia fazer qualquer outra coisa!
Fiz o último show com meus primos em um domingo e na quarta-feira já estava com a Banda Plaza, junto com o Denilson (baterista), Geraldo (guitarrista)… Nesse período entrei em contato com um repertório mais amplo onde tocava de tudo!
Tive a certeza que a fiz a melhor escolha!
Soundcheck: Sua diversidade musical você traz desta época?
Marcelo: Música de todos os tipos eu escuto desde a minha adolescência, sempre fui muito curioso com música, queria ouvir de tudo, saber o que estava acontecendo. Escutava de tudo, mesmo sem estar tocando aquele som.
Lembro que quando ouvi “Coisa Mais Linda” do Vinícius de Moraes e Carlos Lyra, na voz do Caetano Veloso, comecei a escutar sons que eu nunca tinha ouvido até então. Falando tecnicamente nonas, décimas primeiras, extensões, nona aumentada… abriu uma janela de novas harmonia. Isso foi tão impactante que eu não conseguia mais ouvir somente uma música, comecei a escutar um monte de bossa.
Com isso fui estudar música, para saber o que eles estavam tocando!
Soundcheck: Como é sua rotina de estudos?
Marcelo: É preciso estudar muito!
Dos 18 aos 25 anos, estudava o dia todo, mais de 8 horas por dia e quando terminava ainda saia para tocar. Tive até uma tendinite de ficar repetindo os mesmos movimentos várias vezes.
Eu queria chegar a uma excelência! Tudo que eu quis tocar bem eu precisei repetir bastante… música, técnica ou até mesmo uma frase. Dependendo do grau de dificuldade, para a sua mão começar a andar mais levemente pelo instrumento as vezes é preciso estudar bastante, bastante mesmo!
Apesar de tudo, me ajudou muito, acredito que hoje consigo resolver algumas coisas com maior rapidez… essa boa base me proporcionou isso!
Recomendo para todos os baixistas, que estudem algum instrumento de harmonia!
Outra coisa super importante dessa época foram os grupos de estudo que tínhamos, juntava toda a galera… Cristiano Kotlinski, Sandro Moreno (baterista), Wlajones Carvalho “Pacote” (baterista), Alex Mesquita (baixista), Adriano Oliver “Magoo” (tecladista), Fernando Basso (tecladista)… Saia uns trios, uns quartetos e colocávamos em pratica tudo que estávamos escutando e estudando. Talvez eu não teria a base que tenho hoje em dia sem esse momento, mesmo estudando doze horas por dia!
Soundcheck: Quais influências você teve nesse momento de formação musical?
Marcelo: O Cristiano Kotlinski, que chegou trazendo muito conhecimento, uma variedade de sons de um outro nível e um repertório de instrumental que eu não tinha tocado ainda e que abriu um outro universo musical.
Isso eu já estava com uns 18 anos, fazendo contato com um pessoal da música regional, como o Jerry Espíndola, que tem uma importância muito grande na minha carreira.
Eu sempre fui influenciado por quem eu tive a oportunidade de tocar, também pelo fato do contrabaixo ser um instrumento que você está sempre tentando tocar com alguém, acompanhar, dar uma base. Sempre tentei aprender a música daquele compositor ou interprete, é uma das minhas características.
Soundcheck: Você trabalhou com grandes nomes na cena musical sul-mato-grossense, como foi isso?
Marcelo: Eu tive sorte de tocar muito a nossa música, com o Jerry e com todos da Família Espindola, isso já conta uma parte boa dessa história.
Na sequência, comecei a tocar com esses outros grandes nomes Guilherme Rondon, Paulo Simões, Geraldo Roca, Dino Rocha… toda essa turma.
Conheci o Antonio Porto que morava em Viena e em uma das vezes que ele veio visitar o Brasil. Rolou a maior Jam Session onde tocamos muito. Nesse dia ele tocou guitarra, baixo, pandeiro, cantou… Fizemos a maior festa! O Toninho é um cara que tem muito conhecimento e junto com o Cristiano foi muito importante.
Logo me juntei com o Jerry, Sandro e o Magoo e surgiram o Trio Croa e o Jerry & Croa. A partir dai, entrei em um novo momento da minha carreira.
Até então sempre estive em Campo Grande, e quando começamos a fazer esse som com influências de tudo que já tínhamos tocado, nos deu uma visibilidade e começamos a tocar para um outro público em festivais do Rio e São Paulo.
De lá para cá, já se vão 3 discos… dois do Jerry & Croa e um do Trio Croa, que geraram muitos frutos.
Soundcheck: Toda essa bagagem te ajuda em sempre tocar vários repertórios?
Marcelo: Independente do repertório, vou sempre chegar com toda essa história, isso me ajuda muito e me diferencia para atender a música.
A música é soberana, é o que nos une.
Se deixarmos a música de lado, não vai acontecer nada!
Soundcheck: Você sempre foi um sideman, como é para você estar no palco?
Marcelo: Eu adoro estar no palco… poderia estar somente em estúdio ou dando aulas, mas gosto de tocar, ver a reação das pessoas… eu gosto dessa adrenalina!
Mas para isso é preciso gostar… gostar de viajar, conhecer novos lugares, novas culturas, por que o palco cada dia esta em um lugar e nós temos que ir onde o público está, para levar nossa música.
O músico que não gosta do palco não consegue permanecer muito tempo, por que é desgastante, é o preço que se paga… como qualquer outra profissão essa também é feita de escolhas e cada músico faz a sua escolha.
Hoje sou praticamente exclusivo!! Para atender uma dupla como o Jads & Jadson, com uma agenda de mais de 200 shows por ano, acaba sobrando pouco tempo para fazer outras coisas.
Soundcheck: Como surgiu a composição na sua vida?
Marcelo: Logo que eu cheguei em São Paulo fui convidado para tocar na China, onde fiz parte de uma banda que acompanhava um grupo de ballet, algo totalmente diferente do que eu já tinha feito.
Essa viagem foi onde despertei para composição, musicalmente falando foi o ponto chave para a primeira música instrumental que eu compus juntamente com o André Antunes (baterista).
Soundcheck: Além dessa temporada na China, quais outros projetos no exterior marcaram sua carreira?
Marcelo: Fui duas vezes para China com esse projeto e depois já morando em São Paulo, acompanhei a Mafalda Minnozzi durante 4 anos e nesse período surgiu a oportunidade de gravar o DVD dela na Itália e na sequencia, Áustria com Antonio Porto, Portugal com Fafá de Belém e o Dani Black, Assunção com Willy Suchar, Chile com o Marcelo Loureiro, e por último, agora em agosto, estive nos Estados Unidos com Jads e Jadson. Foram momentos muito especiais e importantes na minha carreira.
Soundcheck: Tem algum projeto para o futuro?
Marcelo: Hoje estou me preparando para gravar o meu disco. Ainda estou decidindo, mas acredito que será metade instrumental e metade canção.
É uma necessidade! Quero registrar esse momento da minha vida, gravar essas músicas que eu já fiz. Tem uma música que eu fiz para minha filha e vai estar lá, em duas versões: uma canção e uma instrumental.
Essa fase de gravação ainda não sei quando tempo mais pode levar. É um disco que estou fazendo com meus recursos, no meu tempo e da maneira que eu acho que tem que ser.
Será um disco cheio de parcerias com compositores e músicos. Conto muito com todos eles!
Soundcheck: Conte-nos sobre o convite para tocar no Workshop com Tony Royster Jr
Marcelo: Estava no camarim esperando para ir tocar, quando recebo uma ligação dos organizadores do evento Maykon Scudeller e Jomar Fontes, me convidando para participar do workshop que eles iriam promover aqui em Campo Grande.
Tony fez uma proposta aos organizadores de chamar um músico local, de preferência um baixista, para fazer um som com ele.
Foi tudo muito rápido, recebi o convite no dia 22 e o evento era dia 24. Cinco minutos antes do evento começar, conheci ele e o Gui Ramos (assessor e intérprete).
Foram dez minutos de som livre total, só groove e solando… tocava quatro compassos e solava quatro, ficamos neste bate bola toda a apresentação.
Foi muito bom, um dia importante… deixei a musica correr, coloquei meu cinturão de 20 anos de baileiro no jogo. É nessa hora que você lembra de tudo que você já tocou na sua vida!
Ele é um cara muito gente boa… Depois do evento fomos para a Valley Pub, onde eu dei uma canja com a banda da casa e para fechar a noite chamaram ele. Fizemos mais alguns bons minutos naquela viagem, tocando livre e solando.
Recebi vários feedbacks maravilhosos e pude conhecer muita gente bacana… encerrei a noite com mais uma estrelinha na carreira!
Foto – Leandro Ribeiro
Marcelo, muito obrigado pelo bate-papo e queremos acompanhar de perto toda a evolução do seu disco. Valeu!
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