Confesso que conseguir um espaço na agenda de um cara como o Diego, com a quantidade de trabalhos e fazendo parte de grandes projetos, não foi fácil, mas valeu muito a pena esperar para bater um papo com esse parceiro das antigas!
Soundcheck: Quem te apresentou a música?
Diego Baroza: Quem mais fez eu olhar para a música foi o meu irmão mais velho que já tocava na igreja.
Tenho até uma historia engraçada porque eu jogava bola… saca aqueles moleques que usava caneleira e meia o até o joelho? Então… (risos)
Mas vendo o meu irmão e meus primos tocando, cheguei para o meu pai e disse que queria estudar guitarra. Meu pai disse que tudo bem, mas que teria que largar o futebol. Acabei aceitando a proposta e comecei, com uns 11 anos.
Meu irmão, Thiago, foi o meu maior mentor e até hoje falamos muito sobre música. Ele foi o cara que sempre me puxou a orelha para a realidade, tipo: “mano, baixa o som desse ‘ampli’, está muito alto!” Coisas de irmão, mesmo. Sempre quando tinha que dizer alguma coisa ele falava e isso sempre me ajudou.
Soundcheck: Porque a guitarra?
Diego Baroza: Não sei exatamente o porque me chamou atenção a guitarra, mas a primeira imagem que vem na minha cabeça é de um amigo meu, guitarrista, de Dourados – MS, o Rodrigo Lange. Ele foi o primeiro guitarrista que eu vi tocar e que acabou chamando minha atenção para o som, o timbre…
Soundcheck: Você sempre gostou de estudar, como foi suas primeiras aulas?
Diego Baroza: As primeiras aulas foram um pouco decepcionantes. Cheguei na escola para fazer aula de guitarra e a coordenadora disse que antes precisava fazer aulas de violão, o professor só me passava uns textos bizarros para ficar lendo e escrevendo… (risos)
E acabei começando na igreja, porque lá você fica bem envolvido com a música. Tinha ensaios quase todos os dias, tocava toda quarta, sábado… pelo menos na minha época foi assim.
Até que achei um professor legal, que tocava bem… que também é meu amigo até hoje, o Alessandro “Tule”, foi responsável por abrir minha cabeça. Ele tinha conhecimento e dava aulas de verdade.
Foram três caras que me ensinaram muito na época. O “Tule”, Rodrigo e depois tive aulas com o Mauro, um senhor que dava umas aulas bem práticas… assim fui pegando uma dica de um outra de outro.
Soundcheck: O que você escutava nessa época e como era o acesso as informações?
Diego Baroza: Apesar de não ser a tanto tempo atrás, em 99, eu com meus 11 anos, não tinha acesso a internet… outra época, onde tudo era mais difícil.
Para ver os caras que eu gostava, tinha que comprar as revistas, era o mais próximo que eu poderia chegar dos meus ídolos.
Vídeo aula era disputadíssimo, tinha uns caras que até escondiam as VHS. Quem tinha o material não ficava compartilhando com qualquer um. Mano, pegava uma fita com maior cuidado para não estragar, dava atenção e valor para aquilo. Coisas que não vejo hoje em dia, como tudo está mais próximo e acessível, você baixa um monte de coisa da internet, mas não dá muita atenção.
Mas ouvi muito Oficina G3, Resgate… e a medida que meu pai ia para São Paulo, vendo que eu estava evoluindo, ele sempre trazia algumas coisas.
Tive sorte de viver nessa época e passar por tudo isso. Tínhamos mais paciência.
Sem falar que não tinha tanta fonte de distração, não tinha muitas coisas para fazer. Era jogar bola e tocar guitarra, era tudo muito mais simples, tinha mais tempo.
Soundcheck: Qual era os objetivos nessa época?
Diego Baroza: O meu único foco nessa época era ter uma banda que consegui montar quando tinha uns 13 anos junto com os amigos, esse era o único objetivo.
Quando você cresce no interior, como eu que cresci em Dourados, não tinha um pensamento muito grande, nem imaginava que um dia eu ia sair tocando pelo Brasil… nada disso! Para mim o Brasil se resumia ali onde eu morava. (risos)
Soundcheck: Qual foi sua primeira guitarra?
Diego Baroza: O primeiro instrumento que eu peguei foi uma guitarra Gianini. Tenho até uma história engraçada porque era uma guitarra pequena que devia ter sido do meu irmão, e eu pequei para tocar em um acampamento e o escudo trincou. Vendo aquilo e sem conhecer direito o instrumento, achei que tinha quebrado… aí cheguei chorar achando que não tinha conserto (risos)
Logo depois meu pai me deu uma Strinberg, e só depois peguei uma Tagima que era uma guitarra bem mais “rock n roll”, uma das que durou muito tempo comigo.
Soundcheck: Quando decidiu estudar música mais a fundo?
Diego Baroza: Quando eu estava no ensino médio, comecei a me envolver com músicos mais experientes, que já tinham estudado em conservatórios e tal… com isso comecei a ver que precisava seguir pelo mesmo caminho. Então, na reta final do “terceirão” meu pai disse que se minha intenção era viver de música, teria que cursar uma faculdade.
Eu e meu amigo, Léo Verão, estudávamos junto e um certo dia decidimos que íamos estudar na USP. Não sabíamos ler partitura, mas tivemos essa ideia brilhante e fomos até Ribeirão Preto, para fazer a prova que não era das mais fáceis e levamos bomba na primeira fase, claro! (risos)
Mas essa experiência foi boa, porque vi que não era fácil para ninguém, várias pessoas tentando pela segunda, quarta vez… então vi que realmente eu precisava me preparar mais para isso, até que depois de um tempo estudando algumas coisas, começando a ler e escrever música… decidi tentar uma bolsa no conservatório Souza Lima.
Mandei uma gravação de umas músicas e fui selecionado para a segunda fase, para fazer uma prova lá no conservatório. Com esse resultado já deu para ver que eu estava no caminho, fiz a prova e consegui entrar.
Soundcheck: Como foi essa experiência de estudar em São Paulo?
Diego Baroza: Fiquei o ano de 2005 inteiro estudando muito. Foi um ano bem intenso, onde tinha aulas de percepção, harmonia, prática… fazia todas as aulas possíveis, estava no Souza Lima praticamente todos os dias para aproveitar o máximo que podia. Ralei bastante mas consegui aproveitar muito.
Essa experiência, mudou a minha vida. Tive muito contato com vários músicos, com os professores, como: o Edu Ardanuy, Pollaco Oliva, Michel Leme, Lupa Santiago, Djalma Lima…
Guri do interior na capital, grilado, não saia e ficava o fim de semana todo dentro do quarto estudando guitarra.
Terminando o curso lá, como eu ainda tinha o objetivo de fazer uma faculdade de música e também queria voltar para o Mato Grosso do Sul, decidi fazer o vestibular para o Curso de Música da UFMS e acabei vindo para cá.
Soundcheck: Como é circular por vários ritmos?
Diego Baroza: Cara, eu sempre gostei de ouvir muitas coisas. Voltando lá atrás, na época da igreja, além de tocar na banda de Rock eu também tocava em uma banda que fazia Soul Music, inclusive o primeiro CD que eu gravei, foi com essa banda de Soul.
No Souza Lima tinha práticas de banda, onde tocava de música brasileira a jazz, e esse lance ampliou minha visão, fora que lá tinha um pessoal tocando muito bem e mais o lance da música instrumental, que foi algo que sempre gostei.
No começo foi um pouco difícil até aprender tocar para a música. Logo que entrei na faculdade começou a rolar os primeiros trampos para tocar sertanejo, barzinho… e eu que estava vindo de um conservatório onde estava improvisando todo dia, queria tocar tudo.
Muitas vezes aprendemos ouvindo as pessoas, mas tem coisas que você só aprende vivendo.
Só com o tempo você vai tocando, conhecendo outros músicos e percebe que não é bem assim que funciona e fui aprendendo que tem que tocar para a música.
Soundcheck: Como e quando foi que você decidiu direcionar sua carreira para entrar para o universo dos estúdios e gravações?
Diego Baroza: Sempre tive esse objetivo, mas também sempre estive envolvido com outras coisas como as aulas – algo muito presente por ter facilidade para ensinar – e os show.
Agora começar no mundo das gravações demorou um pouco mais porque os equipamentos eram mais difíceis para adquirir. Para você ter ideia, comecei tentando gravar ligando direto atrás do CPU, só depois consegui comprar minha primeira placa.
Depois disso, em casa sempre teve um computador e uma placa. Esse lance da internet e da gravação online, que está rolando hoje, eu já sabia que um dia ia acontecer.
Sempre tive essa vontade de produzir alguma coisa, montava batera no teclado… o que a gente chama de pré-produção, seu sempre quis fazer. Tanto é que o meu primeiro CD, eu tenho ele todo em MIDI, o novo que estou fazendo também tem todas as “pré”… a moda antiga, mas sempre fiz isso e gostei de pensar em tudo. O legal disso, de estudar produção, é que você consegue encaixar seu instrumento melhor, algo que sempre me ajudou.
Fui estudando, aprendendo com alguns amigos… e depois que entendi mesmo como é todo o processo de gravação, levadas… aí o negócio começou a destravar.
Comecei gravando online, para algumas produções gospel, depois veio uma das primeiras grandes experiências gravando junto com artista e o produtor. Foi o Jads & Jadson, junto com meu amigo produtor musical Flávio Guedes, que foram os primeiros a me darem uma grande oportunidade.
Soundcheck: Porque o trabalho autoral?
Diego Baroza: Isso vem até um pouco antes de me tornar um sidman. Sempre tive vontade de compor e gravar essas minhas composições. Mas quando decidi ser um sidman, eu tentei manter meu nome e não ser somente conhecido como o guitarrista do fulano de tal.
Vejo que a gente acaba se limitando um pouco e por isso decidi gravar esse meu trabalho instrumental que serve até como forma de estudar e de por em prática minhas ideias. Isso sempre me ajudou, apesar de ser bem difícil manter as duas coisas andando junto.
Aprendi isso com o Faiska, uma das minhas referencia aqui no Brasil. Ele sempre teve uma carreira solo, mas já acompanhou grandes artistas como o Fábio Junior, Chitãozinho & Xororó… isso eu sempre achei massa, porque as vezes um cara que não é da música instrumental conhece ele acompanhando um artista e descobre que ele também faz outro som. Coisas que hoje em dia também acontece comigo.
No final, tudo é música. Uma coisa só!
Soundcheck: O que podemos esperar do seu novo disco?
Diego Baroza: Tudo começa em 2010 quando estava terminando meu primeiro CD. Fui em uma loja e o vendedor disse que tinha uma camiseta de músico – deve ser porque tenho cara de músico talvez – e me mostrou uma que estava escrito “Musique Pour La Vie”.
Eu achei a frase demais e disse que aquilo tinha que ser nome de CD. Naquela altura já estava com o meu primeiro CD quase pronto, e fiquei com esse nome na cabeça.
Comecei a mexer o meu segundo disco, veio um monte de trabalho, não pude conciliar e precisei parar por um momento. E agora, depois dessa correria aproveitei para voltar a mexer nele, finalizar quatro faixas e lançar um EP em formato digital. No segundo semestre lançarei a outra parte.
Vai ser um CD totalmente diferente do primeiro, com algumas participações de músicos, como: Flavio Guedes, Jasiel Xavier, Sandro Moreno, Junior Braguinha…
Posso dizer que está ficando legal!
Soundcheck: Qual dos trabalhos que você gravou, chamou mais sua atenção?
Diego Baroza: Cada um tem a sua peculiaridade, mas o primeiro que me deu um susto grande foi o 1º DVD da Maiara & Maraisa, que gravamos em Goiânia. Era um projeto que quando me ligaram para gravar eu não imaginava que ia estourar de forma tão rápida.
Lembro de estar no hotel fazendo as guias de violão e pouco tempo depois, ouvi a música tocando em todos os lugares do Brasil por onde passei. Acho que esse foi o que mais deu um susto.
Ano passado no mesmo mês, gravei o DVD da Marilia Mendonça e e o segundo da Maiara & Maraisa. Teve Bruno & Marrone, outra experiência gigantesca, principalmente porque o Bruno é ligado no violão, até mesmo pelo histórico. Fiz Henrique & Juliano, um DVD muito legal e que os caras são muito massa… o mais bacana de tudo isso é viver esse mundo que surge a cada DVD e a sensação de começar tudo novo de novo.
Soundcheck: Como você resume o ano passado?
Diego Baroza: 2016 foi um ano de concretização. Foi um ano muito bom, que fiquei muito pouco em casa com minha esposa e minha família, mas foi um ano que as coisas se concretizaram. Quando você se propõe desde o começo, fazer tudo legal e zela por isso, você sempre vai estar preparado para esse momento.
As coisas andaram como tem que andar, cada uma no seu tempo.
Eu via alguns amigos dando certo e eu sabia que um dia minha hora ia chegar. Claro que com aquela ansiedade que sempre tem.
Fico muito feliz com tudo isso, e não quero parar. Quero melhorar a cada dia, renovar meu som… o mais massa disso tudo são as pessoas que você conhece no caminho. Isso tudo faz parecer que você nunca está indo trabalhar, saca!?
—
Diego, bacana demais reencontra-lo e muito obrigado pela moral em compartilhar sua história aqui no Blog Soundcheck. Tamo junto, meu brother!
Gostou desse bate-papo?
Comente, curta e compartilhe!