Tivemos o imenso prazer de conversar com Adriano Daga, que nos contou detalhes sobre os seus quase 20 anos de carreira.
Soundcheck: Quando foi que decidiu ser um roqueiro?
Daga: Em 91, depois de morar em Cuiabá – MT, com toda aquela influência musical sertaneja, que por sinal, foi demais… voltei para São Paulo – SP. Aqui, o mundo já era outro! As rádios tocavam Guns N’ Roses e logo depois veio o Metallica… Isso deixou, eu e meu irmão (Giu Daga), fascinados e querendo ser roqueiros, tocar… e começar a conviver com a galera da música!
Lembro que tínhamos conta na locadora… minha mãe deixava, eu e o meu irmão, alugar dois filmes por semana. Quando saiu o “Live in Tokio”, do Guns, passamos um ano inteiro alugando o mesmo filme. (risos)
Soundcheck: Quando começou a tocar bateria?
Daga: Nessa época falei que queria tocar batera… mas meu pai, disse que não ia comprar uma bateria. Comprou um violão para o meu irmão e um teclado para mim! Fiquei pensando: o que vou fazer com esse teclado!
Aprendi tocar umas coisinhas e tal, até que descobri uma “bateriazinha” no teclado. Ficava eu na “batera” acompanhando meu irmão, até que não teve mais jeito e com dez anos, ganhei minha primeira bateria de presente! (risos)
Olha que louco! Era tão difícil encontrar informações, que eu ia pegando algumas coisas vendo outras pessoas tocar. Fui começar a usar o bumbo, só três meses depois que tinha ganhado a batera! (risos)
Eu só tocava, caixa e chimbal, fazia uma virada ou outra. O bumbo eu achava que só servia para segurar os tons… sei lá! Até que o irmão de um amigo, que já tocava batera, disse que ali ia um pedal. Procurei nas caixas que vieram a batera e achei o tal pedal… fiquei pensando: e agora, para aprender tudo de novo!? (risos)
Soundcheck: Como foi sua primeira experiência profissional?
Daga: Consegui formar uma bandinha, mais ou menos, em 95, para tocar nos botecos fazendo covers do Guns, Metallica, Iron Maiden… e fomos tocar numa pizzaria, perto de casa na “Domingueira do Rock”, aquelas coisas de bairro, sabe?
Lá conheci um cara que tocava toda sexta-feira, nesse mesmo lugar, e sábado em um bar no Brás. Depois dessa domingueira ele me convidou para tocar com eles, pois, estavam precisando de um baterista.
Era um repertório que eu não sabia tocar, um esquema meio banda de baile, os caras tocavam de tudo, Só Pra Contrariar, É o Tchan, bastante sertanejo, forró… e me disse que em uma tocada eu já pegava. Imagina, eu tinha 14 anos de idade, mas falei: – beleza! Não tinha nada para perder mesmo!
O cara foi um dia lá em casa, com uma guitarra, para me passar as coisas… você vai tocar assim, samba lento, samba rápido… tocava um pouquinho e explicava outra coisa, forró lento, forró rápido, sertanejo… e dizia: – É isso aqui, oh!
E lá fui eu… um show que não tinha intervalo entre uma música e outra, não parava. O cara só virava para trás e gritava: – Samba rápido! Puxava a próxima música, eu já fazia uma virada e pimba! Eram duas entradas de 2 horas. (risos)
Deu certo, fui na sexta e no sábado, que era mais puxado, tocava até às 4h da manhã. Assim foi por uns 4 meses, meu pai indo comigo. Até que um belo dia, tocando no Brás, sem poder parar… galera toda dançando, não podia perder o pique. Quando lá no fundo do salão voou uma cadeira, era uma briga daquelas. Meu pai me puxou e saímos vazado! Nesse dia, ele disse que lá eu não tocaria mais. Como não poderia tocar mais no sábado, acabou não rolando nas sextas e fiquei um tempo parado!
Essa foi minha primeira experiência em ter que encarar um lance mais profissa, tinha responsabilidade, por que estava sendo pago e bem pago, na época, pela minha idade.
Soundcheck: O primeiro contato com o estúdio, aconteceu em qual momento?
Daga: Tínhamos alugado um quartinho ao lado da minha casa, no fundo da casa de um senhor. Começamos a ensaiar lá, todo domingo, depois do almoço em família, até às 8 da noite e durante semana, chegava do colégio e me enfurnava a tarde toda.
Só que no fundo dessa casa tinha um outro vizinho, que era um velhinho. Em um daqueles domingos ele não aguentou e chamou a polícia. No meio da tarde, chega a polícia querendo saber o que estava acontecendo e viu que era só a molecada tocando… o guarda ficou nosso amigo e disse que conhecia um estúdio, que por sinal, ficava perto e deixou um cartão. Fomos lá, era um estúdio de ensaio, onde o cara gravava em umas fitas K7 e aproveitamos para gravar algumas coisas também. Mas ficou só nisso!
Começamos a nos empenhar nas nossas próprias músicas e na Expomusic de 96, conhecemos os irmãos Andria e Ivan Busic do Dr. Sin. Eles tinham acabado de entrar em uma sociedade no estúdio que na época chamava “MG11 Studios”. Foi lá que tivemos a nossa primeira experiência de gravar mesmo, em um estúdio de verdade.
A partir disso, começamos a ver as coisas de outra forma e aprender como funciona um estúdio.
Soundcheck: Esse primeiro contato com o estúdio, te fez querer viver da música?
Daga: Vou te falar que desde lá do começo, quando ganhamos os instrumentos, não pensávamos em viver de alguma coisa, mas queríamos ser artista… não conhecia ainda os meios que existem dentro da profissão… mas queríamos ser o Guns N’ Roses.
Sempre tive isso na cabeça, tanto é que as coisas foram dando certo e fui trabalhar no estúdio.
Depois de gravar, fiquei fascinado com todo aquele ambiente do estúdio, diferente das experiências anteriores que não eram nada daquilo… fiquei louco! Uma semana depois liguei lá, me oferecendo para ser assistente ou qualquer coisa parecida. Somente depois de mais uma semana, eles me ligaram dizendo que ia rolar, mas só iam me pagar a condução e olhe lá… e lá fui eu! Mas nem de assistente eu ficava, somente cuidando da agenda, limpando a recepção, atendendo a galera e quando muito, depois da sessão de gravação eu ia dar uma aspirada nos tapetes e enrolar os cabos.
Trabalhar no “MG11 Studios”, foi um grande passo e um marco na minha carreira.
Soundcheck: Como foi administrar a carreira de técnico e baterista?
Daga: Tiveram épocas que um lado sobressaia mais que o outro. No áudio, sempre mais! Até porque, se dar bem na cena do rock, como baterista, você realmente tem que fazer sucesso. Como agora, com a Malta.
Então, até que isso acontecesse, comecei a ter sucesso como produtor e engenheiro de áudio. Depois de uma fase na minha vida no estúdio do Randall, onde fiquei praticamente dois anos, só afinando vozes de duplas sertanejas – 12 horas por dia, fui indicado por uma galera para trabalhar no LCM Estúdio do Santiago Ferraz.
Comecei como técnico principal, cuidava praticamente de tudo, montava as coisas, gravava, desmontava, levava para o estúdio, editava, mixava, masterizava… incluindo as gravações de DVD, que não eram trabalhos pequenos! Era Zé Ramalho, Roupa Nova, Roberto Carlos… e muita gente do Gospel.
Eu era meio despretensioso nesse lance e sem formação para ser engenheiro de áudio, sabe?! Mas adquiri muitas experiências na prática.
“Por ser músico e produtor, acabei indo mais para o lado artístico e não para o lado técnico. Eu quero saber da hora do vamo vê, quero ouvir… tem que soar bem!”
Soundcheck: Qual foi o trabalho que te rendeu o Grammy?
Daga: Em 2004 gravei o DVD da Soraia Moraes, “Deixa O Teu Rio Me Levar – Ao Vivo”. Esse trabalho fiz muita coisa e gosto de falar por que tenho o maior orgulho! Foi gravado no antigo Olímpia, fiz tudo e entreguei pronto!
Uns 6 meses depois, em plena segunda-feira, recebo uma ligação do Marco Moraes, dizendo que tínhamos ganhado o Grammy. Ele me disse: – você ganhou também, seu nome está lá! Me passa seu endereço que os caras vão te mandar o troféu. E não é que chegou, está lá em casa!
Vi que estava mandando bem nesse negócio… estava me dedicando há algo que estava dando resultados.
Soundcheck: Como foi para um roqueiro trabalhar no Rock in Rio Lisboa?
Daga: Em 2006, fui para trabalhar pela Gabisom junto com o Santiago e Marcelo Ferraz. Ah! Esse é um detalhe bacana… fizemos a primeira transmissão ao vivo em 5.1 para a Europa inteira.
Foi coisa de filme… os caras já estavam lá a uma semana e no domingo a noite o Santiago me liga: – cancela tudo e vem para cá! Já tinha comprado minha passagem e na manhã seguinte, tinha que estar às 9h em Guarulhos. Lá fui eu para Portugal!
Mixamos todas as bandas que não tinham técnico, como o Sting, Guns, Shakira, Red Hot…
Soundcheck: Em algum momento, você precisou parar de tocar bateria?
Daga: Nunca parei de tocar… Nessa mesma época, aconteceu um fato que para mim, foi histórico!
Conheço o João Mineiro e Marciano desde a época que eu morava em Cuiabá. Um dia chegou no estúdio o Marciano, para gravar o disco solo, eu não acreditei! Conheci o cara, gente finíssima, uma pessoa maravilhosa e acabei ficando amigo, de sair pra tomar cerveja e tal. Olha onde a gente vai parar! (risos)
Só sei que acabou sobrando a batera do disco dele para eu gravar. Foi uma puta experiência bacana, que rendeu histórias muito legais. Tenho até hoje, as partituras assinada pelo Marciano!
Soundcheck: Como foi ser sócio no Norcal Studios?
Daga: O Norcal foi outra experiência maravilhosa, lá pude colocar tudo que eu vinha aprendendo, em prática! Sem falar nas experiências trocadas com o meu sócio Brendan Duffey, que foram essencial para minha carreira, em todos os aspectos… pessoal e profissional, como técnico e baterista.
Fizemos grandes produções, como o disco do Angra, que foi a volta do Ricardo Confessori um cara em que me espelhei muito com músico. Tive a oportunidade de gravar o Mike Mangini, que foi o batera de um disco que eu estava produzindo, Eloy Casagrande, Aquiles Priester… Um outro cara que gravei muito foi o Maguinho, que já era fã desde quando comecei a ver as fichas técnicas de todo mundo do sertanejo… na época só tinha ele.
“Gravando músicos você evolui muito.
São workshops, ali na sua frente!”
Soundcheck: Como foi o início da Malta?
Daga: Com o fim da nossa antiga banda a Izi, falei com meu irmão, para montarmos outra banda, já que estava eu, ele e o Diego Lopes (baixista)… O Giu disse que conhecia um cara que cantava muito, que ele tinha gravado lá no Midas Studios. Marcamos de ensaiar e no primeiro ensaio parecia que já nos conhecíamos a muito tempo. Começamos a nos reunir em setembro e em dezembro estávamos com 3 músicas gravadas, mas ainda sem ter tocado!
Quando foi janeiro, pintou a inscrição para o programa Superstar. Nos inscrevemos e deu no que deu! Não foi nada premeditado, inclusive, quando mandamos nosso material para o programa, uma galera, dizia que não tinha nada a ver o nosso som. Todo mundo me conhecia do Heavy Metal. E a primeira música que apresentamos, foi “Memórias”, uma versão do Rascal Flatts, que fiz junto com o meu parceiro Léo Richter.
Soundcheck: Como foi participar do programa?
Daga: O programa foi muito intenso, na questão emocional, apesar de já ter tocado com um monte de gente, ter feito shows em vários lugares, não tínhamos mais o nervosismo de entrar no palco, saca?!
Mas ali, entrar ao vivo em um domingo a noite com sua mãe e todos seus amigos assistindo … você pensa nisso, cara, é outra onda!
O programa ajudou muito… é uma vitrine, te dá uma visibilidade muito grande, mas isso não quer dizer que todo mundo que ganha ou participa, vai sair fazendo sucesso. É preciso muito trabalho! Nós estávamos empenhados, ficamos vários dias até a madrugada fazendo música, para os próximos programas e já gravando para um possível CD.
A nossa mentalidade era, se o programa acabasse a qualquer momento, se fossemos eliminados, o CD estaria, praticamente, pronto e já lançaríamos. Tanto é que fomos passando, passando e quando ganhamos, duas semanas depois o CD estava pronto para ir para fábrica!
Soundcheck: Quais os próximos planos?
Daga: O plano agora é trabalhar bastante o segundo disco, vamos virar a segunda música de trabalho e pelo menos mais duas músicas desse disco.
E o próximo projeto, com certeza, vai ser o DVD… para conseguir reunir o primeiro e o segundo disco. E o melhor disso tudo, fazer um DVD acústico, com uma roupagem diferente porque as músicas que não foram trabalhadas anteriormente, vamos conseguir trabalhar nele.
Valeu Daga, ainda temos muitas histórias para contar e esperamos ansiosos pelo DVD. Queremos acompanhar junto com a Malta esse acontecimento!
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É muito talento e dedicação destes meninos, mas com certeza a experiência e a visão diferenciada que o Daga adquiriu ao longo dos anos tem feito a diferença. Confesso que li imaginando a voz do Daga e as risadas que devem ter rolado ao relembrar tanta coisa bacana. Parabéns pela iniciativa! Coloriu minha tarde!
Parabéns pela entrevista Soundcheck, como é gostoso saber mais sobre nossos ídolos… Daga você é um excelente baterista e uma pessoa espetacular, tive o privilégio de conhecer vocês da “Malta” em uma tarde de autógrafos aqui em Curitiba e vocês foram tão carinhosos que aumentaram ainda mais o “valor” de vocês…a noite fui no show e amei demais…Vocês não imaginam o quanto fazem bem as pessoas…como é gostoso cantar…(quem canta seus males espanta…rsrsrsrs) e ouvir vocês….grande beijo