Fomos até o estúdio de onde sai as grandes produções de Zé Godoy, para bater um papo e conhecer um pouco da história desse grande pianista.
Soundcheck: Como a música chegou até você?
Zé Godoy: Tinha uns 7 anos, quando meu irmão e um amigo chegaram em casa com um teclado.
O meu irmão que trouxe o instrumento, mas nem ligava para aquilo e acabou que eu comecei a me interessar pelo instrumento.
“Na minha família, sou o único que escolheu a música
e o cabeça dura suficiente para dar continuidade”
Logicamente que, comecei a encher a paciência do meu pai para estudar piano e entrei em uma escola, onde passei a me interessar ainda mais, pela música.
Comecei a fazer aulas de piano, depois na minha adolescência, meu pai me trazia para São Paulo, para fazer aulas no CLAM – Centro Livre de Aprendizagem Musical – e logo depois já comecei a pensar em fazer uma faculdade.
Soundcheck: Geralmente os estudos de piano tem como base a música erudita, com você também foi assim?
Zé Godoy: Sim, comecei a ter um contato com a música erudita, ainda nas primeiras aulas de piano, no conservatório.
Já no CLAM, entrei em outra linguagem, ficou mais MPB, Jazz… e quando entrei na faculdade, tive que resgatar o lance do piano erudito, e dai sim, comecei a pegar pesado com o lance da música erudita.
Na faculdade era música erudita, e eu tinha um repertório para cumprir e tive que dar um gás… foi ótimo!
Soundcheck: Ter como base o erudito e o popular, te ajuda?
Zé Godoy: Me ajudou e me ajuda até hoje! O erudito tem outras exigências e um compromisso com a técnica, qualidade, timbres… diferente da música popular que já tem exigência de ritmo e outras coisas que são diferentes, mas que se completam.
Acho isso muito importante, para que você não fique desbalanceado.
Soundcheck: Quando começou suas primeiras experiências musicais?
Zé Godoy: Com 13 anos, comecei a tocar em bandas de baile, bar… e desde que eu comecei a frequentar o CLAM, comecei, também, escrever paras as bandas de baile da região de Bragança Paulista.
Sempre fui ligado a tocar, música instrumental e popular… tocava de tudo!
Soundcheck: Quais motivos o levaram dar continuidade aos estudos e cursar uma faculdade?
Zé Godoy: Sempre quis trabalhar com composição de música erudita, música para cinema, trilhas… eu já tinha esse objetivo, por que é uma maneira de fazer música instrumental.
E como sempre gostei de orquestração, música erudita e de todo esse universo, para evoluir precisava de uma universidade, não tinha jeito.
Até poderia ir atrás de fazer somente um curso de orquestração, mas seria uma coisa mais rasa, ou poderia fazer um curso de composição, mas que seria só com uma pessoa… e na faculdade acaba englobando tudo.
Soundcheck: O que foi cursar uma faculdade de música?
Zé Godoy: Nessa faculdade dei muita sorte, por que tive professores maravilhosos, como a Marisa Lacorte, que se não foi a melhor é uma das melhores professoras que temos aqui no Brasil, uma pessoa muito sensível e legal que ensina muito bem. Tinha um professor de composição o Ricardo Rizek, um cara absurdamente criativo, que conhecia muito de história e filosofia, muito bacana. E vários outros professores mais práticos e rigorosos, como a Naomi Munakata, que me deu aulas de regência, percepção… e o Abel Rocha, um cara que estudou na Alemanha e que tem muito conhecimento de orquestra, coral… e que é um cara muito rigoroso. Dei muita sorte!
“A faculdade, realmente, foi um momento de fervura musical”
Lá, foi onde conheci muita coisa diferente e acabei tendo a possibilidade de escolher qual o caminho seguir. Com certeza, abriu a minha cabeça para a música.
Meu foco, sempre foi composição, tanto de música instrumental, música para cinema… e a faculdade ajudou absurdamente!
Soundcheck: Como foi chegar em São Paulo e descolar os primeiros trabalhos?
Zé Godoy: Sempre tive muita sorte! (risos)
É verdade, cheguei em São Paulo e meu professor já me arrumou um emprego em um estúdio. Não precisei sair para procurar nada.
E a partir desse momento, comecei a conhecer muita gente e criar um ciclo de amizade e minha própria rede de contatos, que fui conhecendo com o tempo e com isso os trabalhos, sempre, foram aparecendo.
Mas acho que isso é uma coisa que acontece, acredito que quando você estiver pronto para alguma coisa, às oportunidades aparecem. Por isso, acho superimportante estar sempre preparado e escolhendo coisas que te façam bem e que você goste de fazer.
Aí é cair de cabeça, por que a partir do momento que você estiver pronto e apto para fazer alguma coisa, você acaba sendo chamado… o trabalho aparece!
Soundcheck: O mercado da música instrumental é muito diferente da música popular?
Zé Godoy: Uma canção popular, você consegue de várias formas, fazer com que ela rode, por exemplo: você compõe e faz com que alguém grave sua música ou você mesmo grava sua própria música e faz ela rodar.
Já no meu caso, é um pouco diferente. Como faço música instrumental, é muito mais difícil fazer com que uma música ande sozinha. Não que eu também não faça as minhas próprias músicas, mas o processo é diferente e por isso música para cinema, teatro, publicidade… sempre foram minha inspiração.
Mas o principal motivo foi encontrar maneiras de fazer com que minha música seja tocada e ouvida. E descobri que fazer trilha sonora é um dos caminhos.
Soundcheck: É diferente o processo de composição de uma trilha?
Zé Godoy: É muito diferente. Quando você compõe com sua inspiração, você faz uma coisa, 100% autoral e quando você vai fazer uma trilha, na maioria das vezes, você faz um trabalho a quatro mãos.
Você faz um trabalho em parceria com o diretor, que de certo modo, acaba acrescentando e somando. São outros desafios e dificuldades em como fazer sua própria música, com sua cara e sua personalidade, mas que ao mesmo tempo sua música seja como o diretor espera. É outra maneira de criar!
Quando estou compondo uma música para um filme, muitas vezes, acabo focando cena a cena e dependendo do filme, acaba tendo 60, 70 músicas e todos esses trechos precisam estar alinhados entre si, caso contrário, acaba virando uma colcha de retalhos. Precisa se primar por uma estética, uma sonoridade…
Algumas vezes, somente do meio para o fim que você consegue ter a visão de um todo e é preciso voltar para retrabalhar alguns pedaços para se ajustarem na mesma linguagem.
Soundcheck: Quais as principais características do mercado publicitário?
Zé Godoy: Publicidade é um mercado um pouco mais especifico e a dificuldade é outra. Onde você precisa colocar tudo em um tempo menor e ainda passar a mensagem muito mais clara, objetiva… ou seja, é um ótimo exercício.
A publicidade vai fazer com que você seja muito objetivo. E isso é ótimo por que você acaba tendo uma clareza de diversas linguagens e tendo essa experiência com cinema, também te ajuda por que você acaba tendo muito mais cartas na manga.
Soundcheck: Mesmo trabalhando bastante com trilhas, você nunca deixou de trabalhar em outros mercados, por que?
Zé Godoy: Sempre fiz tudo ao mesmo tempo. Um dia estava tocando com uma big band, no outro estava tocando em uma gig de música pop, no outro estava compondo uma trilha, depois estava estudando uma peça para um concerto… é assim até hoje.
Chega um certo momento como músico, que você tem que tocar. Não tem como ficar somente dentro do estúdio, tem que fazer de tudo.
Soundcheck: Seus objetivos sempre foram de trabalhar com trilha sonora?
Zé Godoy: Meus objetivos sempre foram mais voltados para composição, estúdio… do que ser um sideman. Acredito que vou estar contribuindo muito mais, compondo, fazendo coisas novas do que acompanhando alguém.
Não que seja ruim acompanhar um artista, eu adoro estar no palco e por isso acompanho até hoje. Isso é muito importante para qualquer músico, ser um sideman, é uma das experiências que não dá para pular. Mas acredito que compor você acaba deixando mais coisas, deixando suas obras.
Soundncheck: Sempre gostou de estudar?
Zé Godoy: Sou um cara que adora estudar. Sou daqueles que chego do trabalho e vou estudar!
Sempre tive uma rotina de estudo e mantenho isso até hoje! Estudando o que for… seja piano, música, ouvindo alguma coisa, lendo uma partitura para entender e analisar… curto estudar, de todas as formas.
Isso é uma terapia para mim! O estudo me deixa em paz, me dá concentração.
“Tirar o estudo de um músico, é como tirar o exercício de um atleta”
Existem mil maneiras de estudar. Você pode ficar o dia todo praticando no piano, pesquisando coisas, ou no meu caso, pode ficar indo ao cinema, ouvindo várias trilhas para entender o que e como esta sendo feito, tirando músicas, solos, ou estudar os diversos jeitos de compor…. Você precisa saber o que estudar e quando estudar, isso é o mais complicado, por que você pode estudar coisas erradas.
Por isso é sempre legal pegar um ótimo professor, um cara que saiba ensinar para que você aprenda a se virar sozinho e não se torne um refém. Esse é um dos fatores, no qual a faculdade foi muito importante. Colocar as pessoas para se virar!
Soundcheck: O que é para você, ter trabalhado com grandes nomes na música brasileira?
Zé Godoy: Primeiro que é muito gratificante. Conhecer muita gente que você tem como ídolos, como no meu caso Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia… que gravaram minhas músicas e que acabou dando uma repercussão legal.
É quase um sonho se realizando e ao mesmo tempo te dá ainda mais força para fazer mais coisas.
Soundcheck: Em algum momento, imaginou chegar até onde você já chegou?
Zé Godoy: Imaginei, sim, chegar onde eu cheguei, mas na realidade eu acho que tenho muita coisa para contribuir e fazer ainda.
Estou no início da minha carreira, com trinta e seis anos e tudo que eu fiz até agora foi quase um aprendizado. E para ser um compositor completo, quanto mais tempo melhor, por que vai adquirindo mais bagagem e afinando tudo que vai aprendendo durante sua carreira.
Então, acho que estou no início de carreira, e ainda tenho muita coisa para fazer!
Soundcheck: Quais são seus atuais projetos?
Zé Godoy: Tem o segundo trabalho do “Metropole” que está praticamente pronto. E como o primeiro esse também vai ter os vídeos que estão muito bonitos. E muitos outros projetos, como um que estou terminando este mês, o musical da “Chaim Produções”, chamado “Banquete” que estreia no mês que vem.
Em cartaz, têm o filme “Amor em Sampa” do Carlos Alberto Riccelli e Kim Riccelli, que fiz em parceria com o Conrado Goys. Outro filme é o“Se Deus vier, que venha armado” do Luiz Dantas que ganhou vários prêmios e é o filme do mês no “Canal Brasil”.
Tenho um projeto de piano solo, que no início do ano gravei alguns vídeos e vou lançar no “BMA Festival” em agosto, na biblioteca “Mário de Andrade”.
Fora tudo isso, tenho gravado bastante gente aqui no estúdio, tocado com o Dani Black e me dedicado a minha produtora onde trabalho fazendo filmes para publicidade e outras coisas que também tem rolado.
Zé, muito obrigado por nos receber em seu estúdio, para esse bate-papo. Aguardamos o lançamento do seu disco! Vlw
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