Um bate-papo, muito bacana com esse Big baterista… Pois é, nos recebeu no “Parede Meia”, seu estúdio, ou melhor, sua casa, onde passa a maior parte do seu dia fazendo o que mais gosta.
Soundcheck: Foi por influência do seu pai, que você entrou para o mundo da música?
Thiago: Cara, na verdade isso foi o essencial… foi meu start! Tive muita sorte de crescer no meio de músicos maravilhosos, como o meu pai (Luiz Rabello), um grande batera e percussionista. Um dos pioneiros em gravações aqui em São Paulo junto com Pedro Ivo (contrabaixo), Elias Almeida (violão), Jota Rezende (teclado), Maestro Eduardo Assad…
Nasci, nesse meio, convivendo com toda essa galera, que estavam sempre em casa.
Soundcheck: Por que a bateria?
Thiago: Só fui ver meu pai tocar bateria depois de uma certa idade, pelo fato dele ter sofrido um acidente de carro quando eu ainda era muito novo… mas a bateria já estava no sangue!
Meu pai nessa época tocava percussão com a Banda Savana, Fábio Junior… e eu, sempre que dava, ia com a minha mãe, ver ele tocar. Mas ficava ligadão na batera, era o que me mais chamava a minha atenção!
Também, via muito o Maguinho Alcântara, que foi aluno do meu pai, tendo aulas aqui em casa. O Maguinho é como se fosse meu irmão mais velho, sabe?! Um cara que tenho um respeito muito grande!
Então, esses caras foram minhas referências… meu pai, minha referência de vida e o Maguinho minha referência na bateria.
Soundcheck: Quando você ganhou sua primeira bateria?
Thiago: Meu pai, como todo músico brasileiro, teve também seus momentos altos e baixos na carreira. E um desses momentos baixos, ele estava meio ruim de grana e me disse que não ia conseguir me dar um presente de Natal. Bom, eu nunca fui muito ligado a essas coisas, e disse para ele ficar tranquilo que não precisava de nada!
No ano seguinte, ele chegou um dia dizendo que estava bem de grana e que era para escolher o que eu queria. Lógico, imaginando que eu ia pedir um videogame, ou qualquer coisa parecida, que uma criança na minha idade gostaria de ganhar de Natal. Mas não, pedi uma bateria!
Ele ficou surpreso com aquilo, até por que, eu ainda não tinha tocado bateria. Tinha meus dez anos, enfim… ele conseguiu com um amigo, um kit da “Fischer” e a partir daí, comecei minha história na música, como baterista.
Soundcheck: Você sempre gostou de estudar, estudou muito com seu pai?
Thiago: Comecei a estudar com meu pai, mas durou cinco minutos! Sabe como é, aquela fase da pré-adolescência achando que sabe de tudo… E fui estudar sozinho. (risos)
Chegava do colégio e ia estudar, era 24 horas por dia! Morava em uma casa que tinha uma edícula, onde tinha a sala do meu pai, com um monte de instrumentos dele e minha batera. Como ele viajava muito, na época, tocando o Fábio Júnior, essa salinha ficava só para mim… lá ficava estudando o dia todo.
Fiquei uns dois anos nessa, até que meu pai me deu uma bateria eletrônica que tinha um click e tal. Dizia que era importante aquilo, era para imaginar que aquele click, era um percussionista tocando. Não poderia tocar nem na frente, nem atrás, tinha que tocar junto.
Isso foi muito importante para mim, junto com os incentivos do Pedro Ivo, para começar a ler música… Sempre que eles iam gravar, e eu estava ajudando meu pai, ele imprimia uma partitura para mim e dizia que eu tinha que ir aprendendo. Fui meio relutante, mas comecei me interessar por aquilo. Hoje eu vejo que esses incentivos foram muito importantes para mim!
Soundcheck: Toda essa dedicação, já era por algum objetivo?
Thiago: Foi uma junção de coisas. Por que desde quando eu comecei a tocar as coisas foram dando certo… acontecendo tudo muito rápido.
“Então tudo que eu me metia a fazer com música,
dava algum resultado!”
Com 11 anos, conheci por um amigo em comum, o Conrado e o Bernardo Goys. Montamos nossa primeira banda, junto também, com a Tatiana Parra e ganhamos o Prêmio FICO. Esse mesmo festival, ganhei três vezes!
Depois, pintou uma banda aqui de São Paulo chamada “Mamma Monstro”, foi onde peguei muita experiência tocando na noite. Ali comecei a fazer dinheiro e as coisas dando certo.
Então assim, tudo que eu fazia em relação a música, a bateria, me dava muito resultado e com isso, me sentia cada vez mais incentivado! Eu não sei se eu pensava, na época, em chegar a algum lugar. Só gravar, ou tocar, com esse ou aquele artista… única coisa que eu sabia é que aquilo era a minha vida e que estava dando resultado.
Soundcheck: Quando foi seu primeiro trabalho acompanhando um artista?
Thiago: Com 15 anos, recebi um telefonema do Eduardo Araújo, me convidando para tocar com ele. Foi o primeiro artista grande que toquei… que fiz uma turnê.
A partir desse momento, comecei a minha vida profissional, mesmo! Comecei a trabalhar com músicos que tocavam com meu pai. Uns caras bem mais velhos do que eu… com muita experiência. Aprendi muito nesse período!
Soundcheck: Sua chegada no estúdio, como foi?
Thiago: Eu cresci no estúdio! Fui pegando gosto pelo estúdio desde pequeno, vendo meu pai que sempre gravou muito.
Tenho uma paixão pelo ambiente, por microfone, mesa de som, periféricos… tanto é que tenho um estúdio hoje! Foi um lado que me despertou curiosidade, nunca quis tocar outro instrumento, mas sempre quis aprender esse lado mais técnico da música.
No mesmo ano, que eu comecei a trabalhar com o Eduardo Araújo, o Luiz Gustavo (contrabaixista), sabendo que eu já estava tocando, me chamou para uma gravação, lá no estúdio “Mosh”. Umas músicas arranjadas por ele e pelo Lincoln Olivetti. Nossa, eu com uns quinze para dezesseis anos, gravando com todos esses caras, meu pai de percussão… cara, foi meio assustador! (risos)
Na minha primeira sessão aqui em São Paulo, já gravando com click, lendo, tudo valendo… ao lado de todos esses caras que eu sempre via gravar, desde quando acompanhava meu pai pelos estúdios, foi um desafio! Que no final deu tudo certo, fizemos nesse mesmo dia, doze bases e a partir desse momento começou a pintar várias gigs e eu comecei minha carreira no estúdio.
Soundcheck: Você se considera mais, um músico de estúdio ou um sideman?
Thiago: Já fiz show com Chrystian & Ralf, Vanessa Camargo, Ana Cañas, faço hoje em dia com o Pedro Mariano, com o César Camargo Mariano… Mas acabei desenhando minha vida inteira, para ser um cara mais de estúdio.
É o lugar onde me sinto em casa, talvez é o que eu faça de melhor. Eu gosto de usar vários kits, mudar um ou outro microfone… eu tenho essa paciência e gosto de testar, experimentar sons, afinações…
Acho que o mais importante é descobrir o que há de melhor em você. Eu adoro fazer show, mas acho que o estúdio acaba me satisfazendo mais, entendeu?! Não sei te explicar qual o motivo, se é por isso ou por aquilo. Talvez por ter começado muito cedo… ter acompanhado meu pai desde muito novo pelos estúdios e convivido com toda essa galera!
Soundcheck: Desde quando começou, percebeu muita diferença no mercado?
Thiago: Na época, você precisava ser especialista naquilo. Hoje em dia, vejo que abriu demais. Faz bem por um lado, mas ao mesmo tempo faz um pouco de mau!
Quando você abre demais, perde a essência de um músico. Como, por exemplo, um músico de estúdio… aquele cara que sabe montar um kit para gravar determinada música, falando do meu instrumento, sabe afinar o instrumento da maneira adequada para tirar o som ideal para aquela determinada música, sabe o momento de falar… sim, estúdio não é só saber tocar bem, ou tocar limpo, ou ter leitura… é preciso ter postura! Isso foi o que mais se perdeu, na minha opinião!
O cara, hoje em dia, está mais preocupado em tirar self e mostrar com quem ele está gravando, do que com a gravação em si! É o momento que estamos vivendo, concordo! Mas isso passou a parte musical. Você não vê músicos gringos, postando foto ou vídeo o dia todo. Eles trabalham, depois postam a self!
A minha dica é prestar atenção na questão ética e social. Respeitar, sempre, os outros músicos e o nosso próprio trabalho.
Soundcheck: O que é trabalhar com vários estilos, tanto em estúdio quando no palco?
Thiago: É muito gratificando, você ver o resultado… o seu trabalho acontecendo. Eu sou um cara que gosto de muitos tipos de música. E acabei, não sei por que, tocando vários estilos. Sei virar a chavinha muito rápido! Uma característica do músico brasileiro, não é uma exclusividade minha.
Sim, eu consegui deixar isso muito mais claro, desde que comecei a tocar. Sempre aceitei desafios, sempre que pintava uma gig um pouco mais do que eu podia, eu estudava e ia lá fazer. É importante ter isso na cabeça!
“É legal estudar o que gosta.
Mas é importante estudar outras coisas para abrir sua cabeça.”
Já gravei com Cristiano Araújo e acabei de gravar o novo DVD do César Camargo Mariano… isso para mim é importantíssimo!
Eu não fico nessa, de só reclamar, reclamar…! Vou no Dudu Borges (produtor), e gravo amarradão, da mesma maneira que eu toco com o César Camargo, da mesma maneira que faço a Claudia Leite, da mesma maneira que gravo para o Fernando & Sorocaba… não tenho problema nenhum com isso!
A vida foi me levando e eu fui estudando, fui aprendendo. Por exemplo, quando pintou o arrocha, eu não sabia o que era… fui estudar! Ok, não sou um especialista, mas eu gravo… consigo resolver!
Então, essa minha versatilidade, é uma coisa que a vida foi me apresentando… sempre digo que tive muita sorte!
Soundcheck: Hoje com o fato das gravações online, facilita?
Thiago: Me ajuda muito e acaba saindo mais barato para o cara que está me contratando. Eu já tenho toda a estrutura aqui, o cara não precisa se preocupar em alugar estúdio, logística, horário….
Tenho 14 setup de bateria, mais de 60 caixas, mais de 100 pratos… o cara pode escolher o que ele quiser! Vem aqui no estúdio, e podemos montar o setup que melhor se encaixar com o som que ele precisa. Até mesmo quando o cara é de fora de São Paulo ou do Brasil, como acontece muito hoje em dia.
Então é assim, hoje em dia, tanto aqui no Brasil, quanto fora, cada músico está buscando ter seu próprio estúdio, home estúdio… é uma tendência!
Soundcheck: Com toda essa experiência adquirida, você ainda sente aquele frio na barriga?
Thiago: Frio na barriga, sempre! O dia que não tiver mais isso, com certeza é por que tem alguma coisa errada.
Apesar de já ter feito muita coisa, me considerar um cara com uma certa experiência, em várias áreas… estar no mesmo palco, com o César Camargo Mariano, por exemplo, é sempre muito emocionante, sem sombra de dúvidas! Olhar para o lado e ver o cara, tocando piano, é emocionante!
Soundcheck: Você já chegou onde um dia gostaria de chegar, considera-se um músico realizado?
Thiago: Sou realizado, mas ainda quero muito mais! Não fiz tudo o que gostaria de fazer. Estou sempre correndo atrás, e as coisas vão chegando. Tem bastante projeto rolando!
Esse ano gravo meu disco que já comecei a mexer. Tem o projeto da minha esposa, a Dani Gurgel, que todos os anos vamos para o Japão, Europa… e que também me sinto muito realizado participando desse projeto com ela.
Fico muito feliz em ver meus amigos com projetos maravilhosos… sou feliz por estar envolvido com todas essas pessoas. Para mim é muito importante ver todos meus amigos trabalhando. Ver a galera reunida, por um bem maior… reunida para fazer música!
Big, foi um prazer te conhecer e bater esse papo com você! Queremos acompanhar de perto seus feitos e compartilhar aqui no blog. Esperamos pelo seu disco… sucesso, sempre! Vlw
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