Fomos até Campo Grande no home studio do Marcos Borges, de onde sai os violões de muitos sucessos que você escuta nas rádios o dia todo. Claro, tomando aquele tereré que não poderia faltar! Só que dessa vez, ainda mais especial, servido por Marcello Costa (acordeonista), está bom ou quer mais?
Soundcheck: Quem são os responsáveis por te apresentar a música?
Marcos: Desde pequeno, sempre tive contato com a música, através do meu padrasto que tocava teclado.
E como sempre estava por ali, ouvindo meu padrasto tocar, ele e minha mãe decidiram me dar um tecladinho de brinquedo, aqueles coloridos e uma cítara de criança, aquelas que você colocava uma folha com se fosse a partitura e ia tocando onde estava as bolinhas de marcação e incrivelmente, saia a música.
Esse foi meu primeiro contato com a música e os meus primeiros, digamos assim, instrumentos.
Soundcheck: Com qual instrumento, começou a dar os primeiros acordes?
Marcos: Com esse contato com a música fui me interessando cada vez mais pelo teclado, o instrumento que já tinha em casa. Ficava tocando, tentando tirar algumas músicas de ouvido e o incrível, é que desde essa época, que eu escutava meu padrasto tocando já conseguia perceber que algumas coisas não eram realmente aquilo. Como ele tirava de ouvido, eu já identificava que tinhas umas notinhas estranhas, tá ligado?
E aí eu ficava tentando tocar, do jeito que eu achava que era o certo. Assim comecei a desenvolver meu ouvido, e me interessar mais ainda pela música.
Soundcheck: Teve algum tipo de ensino formal?
Marcos: Depois de muito custo, minha mãe conseguiu me colocar em uma aulinha de teclado. Onde a professora começou a me ensinar a ler partitura e tudo mais.
Só que eu trapaceava. Ela tocava uma vez para me mostrar a música e eu já “meio” que decorava, e com isso eu não estava desenvolvendo minha leitura, por que já tinha decorado boa parte. Depois ela acabou desconfiando que eu não estava lendo de verdade e tive que aprender mesmo. (risos)
Ao mesmo tempo que eu estava interessado, e fazendo as aulas, desenvolvendo o lance da leitura, não sei por qual motivo, parei. Larguei mão das aulas e fiquei uns 3 anos sem contato, praticamente, com nenhum instrumento.
Soundcheck: Começou no teclado, mas quando teve os primeiros contatos com o violão?
Marcos: Depois desse afastamento, digamos assim, eu já com uns 14 anos, comecei a aprender violão com os amigos. Foi quando começou o lance do tereré, violão, as famosas revistinhas, tirando as músicas do Legião Urbana, Capital Inicial…
Nessa mesma época de tereré, violão, amigos… comecei a tocar, aos domingos, na missa da igreja. Quando surgiu o interesse pela guitarra.
Foi aquela loucura! Guitarra, vídeo aula, Kiko Loureiro… tipo assim, eu naquele mundinho e aí começo a ver os caras tocando guitarra, aquela coisa virtuosa… ficava me perguntando: “que porra é essa?”
Nessa época, conheci o Jasiel Xavier (baixista) e o Jonathas Xavier (guitarrista). Ficávamos enfurnados dentro de casa, assistindo essas vídeos aulas, shows… era Dream Theater, Oficina G3… ficávamos loucos com aquilo tudo que a gente assistia. Da até uma nostalgia lembrar disso!
Soundcheck: Quem foram suas referências?
Marcos: São muitas, ainda mais quando você começa a conhecer esses sons, como Kiko Loureiro, Frank Solari, Michel Leme, Polaco, Rafael Bitencurt… isso só falando de Brasil.
Foi a fase que eu louqueava, e abriu minha cabeça. Até hoje, para mim, esses caras são lendas. Esses tempos encontrei o Rafael Bitencurt e o Felipe Andreoli no aeroporto e comecei a tremer. Você não acredita que um dia pode encontrar esses caras na sua frente!
Teve também os caras aqui do estado, que sempre fui muito fã… aquela galera toda que víamos no antigo programa “Som do Mato” da TVE, como o Wlajones Carvalho, Adriano “Magoo”, Sandro Moreno, Alex Mesquita, Marcelo Ribeiro, Antonio Porto… Era os caras que eu via tocar e ficava doido.
Por exemplo, da mesma forma que eu via o Kiko Loureiro tocando guitarra eu via o Alex Mesquita tocando baixo.
Foi a época que eu queria descobrir o mundo, virar o John Petrucci! (risos)
Soundcheck: Sempre gostou de estudar?
Marcos: Estudava umas oitos horas por dia, fazendo arpejos, escalas… Era uma loucura! Ficava o dia inteiro com a guitarra e o violão no colo. Minha mãe ficava até preocupada comigo. (risos)
Foi quando comecei a ter minhas primeiras bandinhas de rock com os amigos. Época, também, que tive muito contato com o Luciano Campo Grande (baixista), passávamos o fim de semana inteiro, tocando. Foi um cara que me apresentou muita coisa boa, muitas coisas do universo dele!
Soundcheck: Que tipo de som costuma estar na sua playlist?
Marcos: Eu gosto de escutar outras coisas também, não só vanera! Escuto muita coisa gringa, música pop… escutar os timbres e sons que os caras estão tirando.
Quando conheço uma coisa nova, eu escuto aquilo até pegar fogo… até a hora que não aguento mais, ai passo para outra!
Soundcheck: Como foi escolher entre violão e guitarra?
Marcos: Passando a fase, de tocar na igreja, do tereré com os amigos tocando Legião… A vida começou a ficar mais séria. Estava terminando o ensino médio e precisava começar a pensar em uma faculdade. Coincidiu com o início do curso de música aqui na UFMS.
Como no curso só tinha, violão, piano ou canto… fiquei meio perdido, sem saber o que eu faria com a guitarra, por que era o instrumento que eu estava mais focado, até então. Mas acabei optando pelo violão, quando decidi deixar a guitarra de lado.
Foquei no violão, mesmo o curso não sendo voltado para esse lado instrumental – devido ser uma licenciatura – eu estudei o instrumento até mais do que precisava para o curso.
Soundcheck: O que foi cursar música?
Marcos: A mesma loucura que me deu quando comecei a conhecer esses músicos que te falei, eu tive quando entrei no mundo do violão clássico.
Comecei a descobrir muitas coisas, os grandes violonistas, concertistas do mundo todo. E comecei a ir atrás de partituras e material nas livrarias. A mesma vontade que eu tinha de ser o John Petrucci na época da guitarra, na época do violão eu queria ser o David Russell.
Soundcheck: Não quis dar sequência em uma carreira acadêmica ou de concertista?
Marcos: Na faculdade tive contato com grandes professores de violão, e com o próprio Maestro Eduardo Martinelli, que foi um dos meus professores, junto com o Marcelo Fernandes, Maurício Orosco e mais uma galera muito legal, como master class com Edelton Gloeden, um dos grandes nomes do Brasil, quando se fala em violão erudito.
E mesmo com todo o conhecimento que adquiri na faculdade, chegando ao fim do curso, veio aquela velha pergunta: “E agora o que eu vou fazer?” Poderia seguir uma carreira de concertista, mas ainda teria muito o que estudar, muito mesmo!
Enfim, conclui o curso e comecei a dar aulas. Dava aulas para valer, até para o interior do estado eu ia.
Até que num certo dia, na casa do Jonathas, começou o assunto de tocar na noite e me perguntaram se eu não estava afim de tocar. Pensei, e disse: “quer saber, vou tocar!”
Soundcheck: Como foi essa sua volta a música popular, tocando sertanejo?
Marcos: Eles já estavam a muito tempo na noite, tocando com a galera e eu não tinha feito nada ainda, a não ser as poucas vezes com as bandinhas de rock lá atrás.
Lembro até hoje do meu primeiro trabalho na noite, acompanhando a Bruna Campos. Eu lá, todo polido, com a ideia de tirar o som mais limpo de todo o universo… nossa, foi um choque! (risos)
Foi quando eu percebi que era sertanejo e não aquilo que estava querendo fazer. Eu estava em um outro universo!
“Demorei quatro anos para construir um repertório
e agora estou aqui descendo a mão no violão”
Sofri um pouco no começo para começar a tocar da forma que precisava tocar o sertanejo, de tirar som do instrumento. Mas fui tocando, fazendo free com as duplas e pegando o jeito, até que descobri o poder da “patada” no violão. (risos)
Soundcheck: E no estúdio você também precisou dessa pegada mais pesada?
Marcos: Fui uma vez gravar para o Ivan Miyazato (produtor), mas eu ainda estava nessa época de aprender a tocar forte (por isso que o Marcello esta rindo, essa história é engraçada!).
Estava eu lá, suando e ele disse: “vai lá Marcão, está legal… mas pode tocar forte, está quase vindo!”. Depois de um tempo vim gravar para ele, já aqui em Campo Grande, e ele disse: “está legal Marcão, mas pode tocar mais fraco um pouquinho?” (risos)
Soundcheck: Nessa época como sidmam, você já tinha planos de viver somente de gravação?
Marcos: Nesse tempo tive algumas oportunidades de gravação, mas ainda não passava pela minha cabeça esse lance de gravar. E continuei tocando, mais uns dois anos e meio com a Janaynna Targino, que eu acompanhava.
Foi onde eu tive, digamos que, a minha maior influência no meio sertanejo, o Marco Abreu (violonista), que tinha gravado o CD da Janaynna e que eu ficava ouvindo e tentando tirar aquele som que ele faz. É minha referência até hoje no violão.
Soundcheck: Quando perebeu que poderia se dedicar somente a gravação?
Marcos: Passando esse período com a Janaynna, começou a pintar alguns trabalhos de produção, gravação e comecei a focar nisso.
E com isso descobri que era possível gravar algumas coisas de casa mesmo, e como eu já estava com a ideia de não passar mais a maior parte do mês dentro de um ônibus, não fiquei mais fixo com nenhum artista. Fiz alguns free para segurar a onda. E fui me dedicando, cada vez mais, somente as gravações.
Nisso o Wlajones com o estúdio em São Paulo, e junto com o Ricardo Bikay, tiveram a ideia de me chamar para gravar. E lá fui eu, pela primeira vez gravar com “Pacote”. Chegando lá, vi que era isso que eu queria para minha vida.
E lembra da história do “Som do Mato”? Então, via o cara na TV, tocando com a galera da elite e depois está lá o cara indo me buscar no aeroporto para gravar no estúdio dele… inacreditável!
A partir desse momento, com as indicações, dele, do Alex Mesquita e do Alexandre Gaiotto, comecei a conhecer e gravar para vários outros produtores.
Soundcheck: Imaginou um dia chegar onde está, hoje?
Marcos: Eu nunca imaginei, um dia, escutar meus violões tocando na rádio. Ainda mais com Luan Santana, Michel Teló, Marcos & Belutti… não tinha imaginado isso, tá ligado?
Eu queria trabalhar só com gravação, mas não sabia que ia chegar, onde chegou!
Soundcheck: Você precisou dedicar muito para trocar a estrada pelo estúdio?
Marcos: Você precisa estar preparado para quando as coisas acontecerem, e eu acho que fui muito feliz nesse aspecto. Acredito que estou fazendo um bom trabalho até aqui, e o pessoal está gostando bastante.
Está sendo muito louco! Alguns anos atrás eu precisava gravar pelo menos uma música para segurar a onda… e agora não estou dando conta de atender todo mundo.
Soundcheck: O que você acredita que fez, que te trouxe até aqui?
Marcos: Eu acho que tudo contribuiu, desde o fato de ter estudado o violão clássico, todas as minhas influências, a guitarra… tudo me ajudou bastante, para hoje, ter minha própria identidade, vamos dizer assim.
Por mais influências que eu tenha, consegui fazer o meu som. E talvez o que tenha me ajudado bastante, seja o lance de ter nascido aqui em Campo Grande, e ter escutado nossa música que está, vamos dizer, tocando no Brasil todo. Veio tudo a calhar… está favorável!
Soundcheck: Teve algum momento marcante, trabalhando com pessoas que você sempre admirou?
Marcos: Um dia, meia noite mais ou menos, recebi uma mensagem do Alex Cavalheri “Fralda”, perguntando por onde eu andava e se estava em Campo Grande. Até achei estranho, mas ele me disse estava no estúdio com o Sandro, Marcelinho e o Jerry Espíndola e que só estava faltando o violonista. Me perguntou se eu poderia ir até lá… Pensa num cara que ficou gelado nessa hora! Mas peguei o violão e fui. (risos)
Ainda não tinha tido contato com esses caras que eu sou ultra fã e o “Fralda” me chamou para ir lá gravar com eles.
Resumindo, era o “Água dos Matos“, trabalho que os Espíndolas tinham feito, com a população ribeirinha e que resultou em um álbum com várias músicas do Jerry, Tetê, Alzira e a Lucina Carvalho em conjunto com os músicos Adriano “Magoo”, Sandro Moreno, Alex Cavalheri e Marcelo Ribeiro.
Chegando lá, o “Fralda” disse que a música era assim, assado que já tinha pensado em alguns riffs e tal… quando o Sandro olhou e falou: “Marquinho, arrebenta ai que a gente vai na sua onda!”
Tipo assim, não tinha nada gravado ainda. Só tinha o click e a música na cabeça dos caras. Eu ia ser o primeiro a gravar! Pensa na segurança que fiquei na hora… bateu aquele desespero. Enfim, deu certo e gravamos as músicas do Jerry.
Passado alguns dias, o “Fralda” me liga novamente dizendo que a Tetê, Alzira e a Lucina chegaram no estúdio para gravar os violões. Mas quando ouviram os violões que estavam nas músicas do Jerry, elas pediram para que eu gravasse, também, nas músicas delas. Acabei gravando praticamente o disco todo.
Soundcheck: Com quem você tem trabalhado?
Marcos: Cada dia mais, tenho gravado, e com a ajuda da internet, consigo atender produtores e artistas de vários lugares do Brasil.
E recentemente passei a gravar com o Dudu Borges (produtor), onde praticamente participei de todos os trabalhos de 2014 pra cá. O Dudu é um cara que tive o primeiro contato, ainda lá na época da Janaynna. Entre os trabalhos mais recente estão o DVD do Gustavo Lima “50/50” e vários outros artistas como: Jorge & Mateus, Chitãozinho & Xororó, Bruno & Marrone, Aviões do Forró…
Tem o Jads & Jadson, produção do Flávio Guedes, que também gravo para ele. O último DVD do Michel Teló, outro cara que eu nunca imaginei um dia gravar, e sou fã desde a época do “Tradição”.
Também gravei uma das músicas mais tocadas, a “Domingo de Manhã” do Marcos & Belutti, com a produção do Fernando Zor. E vários outros trabalhos com grandes produtores, como: Ray Ferrari, Ed Júnior, William Santos, Wlajones Carvalho, Geraldo Júnior, Marcello Costa…
Marcão, obrigado pela receptividade, pelo bate-papo e pelo tereré! Vlw
Foto – Lucci Antunes
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