Batemos um papo muito bacana com o multi-instrumentista Marcelo Modesto, que nos contou com muito bom humor, algumas das várias histórias de sua carreira.
Soundcheck: Como despertou o interesse pela música?
Modesto: Cara, é uma história muito engraçada! Na minha família não tem nenhum músico e minha mãe não queria que eu fosse músico, de jeito nenhum! Aquela história de que músico não quer nada com nada, sabe?
Com isso, comecei a tocar escondido, fazendo aulas de violão com o vizinho, ao invés de ir para a escola. (risos)
Soundcheck: Nesse momento, como foram seus estudos?
Modesto: Quando eu comecei a fazer aulas de violão, era aquela coisa das cifras, nada de harmonia. Minhas primeiras noções de harmonia foram com meu amigo Cleiton, que foi, o meu primeiro professor.
Na época, o Cleitão era o guitarrista que estava mais ligado nas coisas, que já tinha banda de rock, equipamentos e fazia aulas com alguns professores. Com isso, ele tinha um material de harmonia bem legal. Foi com ele que comecei a pegar aulas sobre escalas, acordes… foi o cara que abriu minha mente para harmonia.
Depois, fui fazer aulas com o Sérgio Freitas, um cara muito conceituado. Foi onde comecei me interessar por Jazz, Bossa Nova… e na sequência conheci um cara que mudou minha vida, Paulo Hildebrand, foi quem mudou minha cabeça em relação a música, guitarra, improvisação… me ajudou muito, tá loco! Tenho um carinho muito grande por ele.
Até que em 92, fui estudar em Tatuí – SP, onde fiquei até 96, quando me formei.
Soundcheck: Nessa época, quais eram seus sonhos como guitarrista?
Modesto: Quando comecei, queria tocar rock, tocar igual ao Joe Satriani… até tive uma guitarra igual a dele. Mas quando entrei em Tatuí, conheci outro universo, tanto é que vendi essa guitarra e comprei uma semiacústica.
Soundcheck: Como foram suas primeiras experiências musicais, ainda com as bandas de garagem?
Modesto: Tive algumas bandas com meus primos e meu irmão tocando bateria… mas esse período foi muito curto, acabei não vivendo essa época das bandas de garagem.
Foi assim, eu precisava provar que a música poderia ser uma profissão e que poderia viver disso, no entanto, achei um anuncio no jornal de uma banda que estava precisando de um guitarrista. Fui atrás da banda, fiz o teste – tudo sem minha mãe saber – passei e a partir daí, foi onde tudo começou.
Ensaiávamos em uma funilaria, do irmão do dono da banda e quando falei que ia tocar o primeiro baile minha mãe ficou chocada! (risos)
E esse cara, dono da banda, chegou a ir em casa. Levou a família toda para falar com a minha mãe. Disse que estava com ele e lá era tudo família e que poderia ficar tranquila eu seria muito bem cuidado.
Soundcheck: Qual maneira encontrou para divulgar o seu trabalho como guitarrista?
Modesto: Quando me formei em Tatuí, decidi sair do baile para começar a tocar na noite aqui em Campinas – SP, foi onde começou, realmente, minha carreira profissional.
Naquela época, os músicos dos bares, era só sonzeira, os melhores músicos de Campinas estavam na noite, e para entrar nesse circuito, tinha que ter uma bagagem muito boa… foi quando comecei a sair para dar canja.
Com um Corcel branco, 77, uma guitarra sem case, sem bag, sem nada… caia na noite, passando, de bar em bar, para dar canja e tentar me encaixar em algum lugar. (risos)
Acabei ficando muito conhecido aqui em Campinas, conheci muitos músicos e foi quando comecei a montar os grupos de instrumentais, como o Hot Jazz Club, um projeto de jazz instrumental.
Soundcheck: Por que optou por deixar o baile?
Modesto: A questão de ser músico de baile, eu sentia que aquilo seria uma coisa onde eu iria passar a minha vida fazendo o mesmo, apesar de tocar vários gêneros musicais, acaba não tendo a liberdade para você estar, sempre, criando.
Diferente do que rolava na noite, que você faz a sua música, com espaços para improvisar… isso era o que chamava minha atenção e eu gostava, essa coisa da improvisação eu não conseguia no baile.
O baile é legal, uma puta escola para ganhar experiência, aprende a tocar em grupo, mas te limita em um certo momento.
Soundcheck: Você sempre esteve envolvido em vários projetos?
Modesto: Nessa época, muitas coisas estavam acontecendo. Tocávamos em dois hotéis, aqui em Campinas, de onde apareciam muitos eventos e com isso trabalhávamos todos os dias.
Também, comecei a dar aulas. As pessoas foram me conhecendo e vinham pedir para eu dar aulas, foi quando comecei a pegar alguns alunos e montei um espaço na casa da minha mãe, onde fiquei até criar a escola. Tinha muitos alunos, dava aulas das 8 na manhã às 8 da noite. Da última aula, só passava em casa para pegar o terno, e ia direto tocar.
“Foi uma época bem legal e de muito crescimento musical e profissional”
Era uma correria, mas foi a época que as coisas começaram a acontecer. Pude comprar minha casa… não tinha mais o Corcel! (risos)
Soundcheck: Algum fato especial, te marcou, nesse período?
Modesto: Nessa época que conheci o Roberto Menescal. Ele me viu tocando na Expomusic e me convidou para dar uma canja no Hilton, onde ele ia tocar. Cheguei lá para dar a canja, e ele disse que ia passar a guitarra para um guitarrista que tinha acabado de chegar e me deu a guitarra dele para eu tocar. Essa guitarra ele me deu mesmo, de presente!
E surgiram várias outras parcerias, como uma participação dele no nosso disco, em uma música “Pruzé”, que ele mesmo fez e deu para nós… foi demais cara!
Soundcheck: Quando foi que decidiu direcionar sua carreira para se tornar um sideman?
Modesto: Eu já estava querendo mudar, fazer outras coisas. Tinha a escola, o projeto de Jazz que funcionavam bem, mas tinha a necessidade de mudar um pouco. Foi quando comecei a me interessar por setup, por que, até então era só guitarra acústica. E com a ideia de tocar com um artista e fui me interessando por outro tipo de equipamento, e comecei a ficar ligado nessas coisas.
Soundcheck: Como começou sua história com Chitãozinho & Xororó?
Modesto: Um dia o Patrick, que fazia aulas comigo, trouxe o Alison, filho do Chitãozinho, para fazer aulas. Acabei conhecendo a família dele, o Chitão chegou a ir no hotel para ver a gente tocar… até que um dia pintou a gravação do “Um barzinho e um violão”, para fazer com eles e que foi muito legal.
Um mês depois o Luiz Gustavo (baixista e produtor), me ligou convidando para fazer parte da banda. E aí cara, foi muito legal por que fui aprendo lá dentro, por que até então eu nunca tinha pego estrada com artistas, só gravações. Entrar para a banda, pegar o buzão foi minha primeira experiência, muito loco!
Soundcheck: Como é a experiência de tocar com eles?
Modesto: Como eu sempre gostei de tocar vários instrumentos, como o mandolin, banjo, dobro… então deu muito certo. Também entrei na fase que estavam querendo pesar um pouco o som e como eu tinha essa coisa mais do rock and roll, somou bem.
Para mim, esses onze anos, foram o maior aprendizado da minha vida e a cada ano nos afinamos ainda mais. O Xororó é um cara muito musical que gosta de trocar ideias, fazer um som…
Soundcheck: Hoje, também se dedica também as gravações?
Modesto: Depois que entrei no Chitãozinho & Xororó, tive que mudar algumas coisas, parei com a escola para montar o “Whatafolk Studio”, não tinha mais condições de ter compromissos com aulas, devido a agenda, mas abriram portas para as gravações.
Hoje com o estúdio, estamos trabalhando bastante. É uma verdadeira correria, passo o dia todo no estúdio gravando para muitos produtores, como Dudu Borges, Eduardo Pepato, Junior Melo, Jimmy Oliveira… produtores de diversos cantos do Brasil.
Soundcheck: Quais são seus planos para o futuro?
Modesto: Acho que minha aposentadoria será aqui no estúdio, gravando, produzindo… isso é o que pretendo continuar fazendo. O dia que sair da estrada, provavelmente vou me dedicar 100% ao estúdio.
Estou investindo no estúdio para que as pessoas possam vir para cá, ficarem bem para gravar com tranquilidade e qualidade.
Modesto, muito obrigado por compartilhar com a gente essas grandes histórias. Vlw pela moral!
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