Fomos bater um papo com esse grande violonista, que nunca se privou do fator idade, independente de estar iniciando aos 13 ou aos 40 anos. Hoje, mesmo depois de muitos feitos durante toda sua carreira, integra o time dos músicos mais requisitados para gravação.
Soundcheck: Quando começou seus primeiros contatos com a música?
Jeff: Nasci em uma cidade no Paraná, chamada Goioerê. Comecei como coroinha, cantando as músicas do Padre Zezinho e com 8, 9 anos participava dos festivais de calouros, que tinham, aos domingos, por lá.
Depois mudamos para Maringá onde foi a mesma coisa, continuei cantando em todos os festivais até que apareceram as primeiras bandas de baile. Eu ainda criança, com a proposta de começar cantando logo no início baile e depois ir dormir. E com 11 anos estava começando, imitando Sidney Magal, Roberto Carlos… tenho até hoje algumas roupa que meu pai mandou fazer.
Souncheck: Como foi esse período, mesmo ainda muito novo, como cantor?
Jeff: Em 83, com 13 anos, vi um anúncio no gibi, do 1º Festival Internacional da Criança, que o Silvio Santos estava fazendo aqui em São Paulo, na época, ainda pela emissora TVS.
Bom, um amigo do meu pai me inscreveu, peguei um ônibus e vim fazer um teste, sozinho. Fiquei quase um ano inteiro nesse festival, indo e vindo de Maringá… tipo esses programas de hoje em dia, do Raul Gil.
Até que um dia o diretor do programa disse para o meu pai, que estava aqui comigo, que eu poderia ficar na casa dele até o fim do programa, evitando eu ficar indo e vindo toda as semanas.
Resultado, ganhei esse festival! O prêmio para o primeiro lugar era ir para os Estados Unidos concorrer na grande final que, também acabei ganhando. E o outro prêmio, para os três primeiros colocados no Brasil, era formar o Trem da Alegria.
Para eu ficar no Trem da Alegria teria que me mudar para São Paulo. Minha família não podia, a gravadora, naquela época, também não podia assumir a responsabilidade… com isso, acabei voltando para Maringá. O Trem da Alegria fazendo sucesso e eu no Paraná, cantando um pouco aqui, um pouco ali…
Soundcheck: O interesse por tocar algum instrumento, quando surgiu?
Jeff: Era anos 80 e com a explosão do rock nacional, Lulu Santos e todas aquelas bandas que eu achava muito legal, comecei a me interessar por tocar guitarra, por que até então eu só cantava.
Como eu estava no Paraná, e não tinha dado certo o negócio do Trem da Alegria, vendo o Lulu cantando e tocando, botei na cabeça que queria fazer a mesma coisa e comecei os primeiros bailinhos, cantando e tocando, com as bandas da região.
Soundcheck: Quem foram suas referências musicais?
Jeff: Comecei muito novo, cantando as músicas do Padre Zezinho e aquelas coisas todas… então, se eu for te falar quais as minhas influências, vou te dizer que a primeira foi o Padre Zezinho. (risos)
Comecei cantando, e isso foi algo que ficou presente em minha vida durante bastante tempo, mas como te falei, quando começaram a surgir as primeiras bandas de rock nos anos 80, surgiu a vontade de tocar guitarra e o meu sonho era ser músico desses caras.
Então as referências nesse começo eram essas, dos anos 80, e alguns guitarristas americanos que cantavam, como o Michael Sembello.
Soundcheck: Em qual momento percebeu que iria viver de música?
Jeff: A música sempre esteve na minha vida, depois surgiu a guitarra porque eu queria cantar e tocar e a partir daí, um começou a me chama para tocar aqui, outro para tocar ali e quando fui ver, já esta vivendo da música e não sabia.
Tanto é que algumas pessoas perguntam se essa vida de músico é dura, difícil… e eu sempre digo: não sei te falar, por que eu nunca fiz outra coisa na minha vida, a não ser música.
Com uns 17 anos parei de estudar, por que matava aulas para ir tocar. Nesse momento, vi que era a música que eu gostava e comecei a tocar em bandas de baile, fazendo formatura, casamento…
Soundcheck: O fato de estar no interior do Paraná, parece que nunca foi um problema ou algo que te limitou. Como vê isso?
Jeff: Eu sempre gostei de estar atento a tudo, gosto de estudar e pelo fato de nunca ter feito essa segmentação de estilos musicais, sempre gostei de muitas outras coisas.
Poderia me conformar, só precisando tirar músicas dos outros, mas nunca me vi dessa forma. Sempre tive vontade de ser um músico cada vez mais completo. Eu era o cara chato da banda, que pegava no pé quando tiravam timbres errados, quando estavam tocando de qualquer forma, quando não tinha interesse de fazer bem feito… coisas que eu já penso diferente: se tem que fazer, vamos fazer bem feito!
“Sempre gostei de estar antenado em tudo, lendo, estudando… gosto muito de biografias, para saber por que tal pessoa fez e deu certo, por que deu errado”
Outra coisa, antigamente, as bandas de baile do Paraná eram muito grandes, com bastante equipamento… e como ainda não existiam as grandes empresas de som, a minha banda fez muita abertura para artistas, que depois utilizavam o nosso equipamento.
“Ser músico profissional, não basta só tocar bem. Seu comportamento e suas atitudes como pessoa e profissional, contam muito”
Como eu era um dos donos da banda, sempre tive muito contato com todos os artistas e músicos. E via, claramente, que era diferente e aproveitava que já estava ali para ficar de olho em tudo e na atitude, no comportamento dos músicos e com isso eu comparava com o que eu via, no meu dia-a-dia.
Soundcheck: Essa visão de negócio vem de onde?
Jeff: Não tive tempo de estudar e me arrependo bastante por isso. Como eu disse, foi acontecendo e uma coisa foi levando a outra e quando vi, já estava em uma banda maior e por aí em diante.
Atribuo tudo isso a leitura, gosto muito de ler, como te falei. E mesmo sem estar frequentando a escola, por causa da música, eu não queria ser um cara burro.
Vim estudar música quando cheguei em São Paulo, junto com essa explosão do sertanejo universitário. Quando comecei a gravar para vários outros produtores e fui fazer esses cursos a jato, aprendendo meio que assim.
Soundcheck: Como foi sair do baile depois de muitos anos de carreira e começar em um novo mercado?
Jeff: Toquei baile dos meus 17 anos, quando eu realmente me efetivei como um músico de baile, aos meus 35 anos. Cheguei a conclusão que não queria mais isso para a minha vida e decidi sair da estrada.
Voltei para Maringá, alguns amigos trabalhavam com publicidade e propaganda tinham estúdio e volta e meia, entre um jingle e outro, aparecia uma dupla para gravar. Assim comecei a gravar esses caras.
Mas sempre que eu ouvia, depois, percebia que tinha algumas coisas para melhorar. Ouvia os outros músicos e eu mesmo comecei a me cobrar.
Nessa época, nem sonhava em vir para São Paulo, para viver gravando… ao contrário, nunca tinha entrado em estúdio antes dessas primeiras experiências.
Soundcheck: O processo para chegar em São Paulo, como foi?
Jeff: Assim que eu voltei para Maringá, em 2005, estava começando essa explosão do sertanejo universitário, aparecendo duplas como João Bosco & Vinicius, Fernando & Sorocaba… tudo isso estava surgindo quando voltei para lá.
Eu tinha decidido parar com o baile, mas precisava viver e nos barzinhos de Maringá, só tocava sertanejo. Quando um amigo me indicou para fazer com a dupla Hugo Pena & Gabriel, que tocava na noite, na antiga Dot, uma casa noturna que tinha por lá.
Bom, depois me chamaram outras vezes e fui levando algumas novidades e profissionalizando, algo que fez com que eles adquirissem confiança em mim até que pediram para eu produzir o DVD deles que estourou a música “Mala Pronta”.
Nesse meio tempo conheci outras pessoas e tive a oportunidade de produzir o DVD do João Carreiro & Capataz… e com as vindas para São Paulo, de vez em quando, já com 39 anos, resolvi vim para cá, por que para mim era o momento certo ou nunca mais.
Soundcheck: Hoje você percorre por diversos gêneros musicais, como conseguiu isso?
Jeff: Até hoje, na minha cabeça funciona assim. Nunca segmentei, se é rock, pagode, samba, sertanejo… para mim, música é música! Não tenho essa de gostar mais disso ou daquilo, gosto de música.
Cheguei aqui, sem conhecer muita gente, fim de 2009, e comecei a fazer amizade com um, com outro e com pessoas não só do sertanejo, que foram abrindo portas para trabalhar com vários outros artistas, como no ano passado que eu trabalhei com Mart’nália, Alceu Valença, Gaby Amarantos, Max de Castro…
Nesse meio tempo, também conheci o Tiago Iorc e viramos muito amigos… nisso ele conheceu o duo Anavitória e me convidou para produzir, no ano passado, 4 canções que fez o maior barulho na internet. E esse ano, ele me chamou, novamente, para produzir junto com ele o CD das meninas, que está saindo pela Universal Music.
Soundcheck: Como você vê a digitalização da música hoje em dia?
Jeff: Tudo na vida é da forma que você olha. Hoje, com a digitalização da música e a revolução da internet, o céu é o limite. Um exemplo é gravar aqui de São Paulo para produtores de Chicago, Boston… não tem mais barreiras.
Mas tudo é da forma que você olha! Tem músico que já acha que agora todo mundo grava, que não precisa mais dos músicos bons, que com a ajuda da tecnologia o cara grava quantas vezes precisar e depois ainda pode concertar e coisa e tal.
Acontece que, realmente, no primeiro momento vem essa explosão, todo mundo tem acesso, mas com o tempo tem aquela peneirada que, não fica todo mundo. Mas até então, é isso mesmo, todo mundo montando estúdio, gravando, produzindo…
Soundcheck: O que você considera importante para um músico profissional?
Jeff: Voltando lá atrás, na época das bandas de baile, como eu sempre fui sócio-proprietário, tenho essa visão de “dono do negócio”, embora a vida é um aprendizado e tudo que eu aprendi hoje, pode não significar nada, amanhã. Mas essa experiência de ter sido um líder na banda, me ajudou bastante para me relacionar com as pessoas e maneira de enxergar a minha carreira.
Claro, o relacionamento é muito importante. Mas uma coisa é fato, as pessoas precisam viver todas as fases da vida. E se você quiser seguir uma carreira musical, viver de música, comece a enxergar a coisa de uma forma mais ampla.
Como músico profissional, eu não posso escolher a música que eu toco. Toco a música que me pedem para tocar e para fazer isso bem feito, eu tenho que ter o mínimo de conhecimento.
Mas vejo que o cara precisa passar essa por todas as fases, ouvir as coisas que ele gosta por que é nesse primeiro momento que você adquire o amor pelo seu instrumento, pela música… Só que depois, se você fizer a escolha de viver da música, saia do seu casulo, abra sua cabeça porque você não vai tocar só o que você quer, você vai tocar o que te pagam para tocar.
As pessoas perdem por não se relacionarem. Tem muito músico bom que só toca sertanejo, tem muito músico bom que só toca MPB… e se elas se relacionassem, trocassem ideias… ao invés de um ficar olhando para o outro como um bicho de sete cabeça, isso seria bom para todos e para a música.
Soundcheck: Valeu a pena toda essa mudança para estar, hoje, onde está?
Jeff: O que me orgulha, de toda essa mudança, é saber que 4, 5 meses depois eu já estava gravando, grandes artistas, como Mato Grosso & Mathias, Chitãozinho & Xororó…
Tenho orgulho de olhar para trás e ver que tudo que eu vivi desde meus 9 anos de idade. Tudo isso me trouxe o amadurecimento necessário para eu chegar em São Paulo, com 40 nos de idade, que é considerado velho para você começar em qualquer profissão, e gravar para muitos artistas… e esse é o meu orgulho!
Enquanto com 40 anos de idade, tem muita gente desistindo da vida, eu estava começando essa história, que ainda vai muito longe!
Soundncheck: Com todos esses feitos, chegou onde gostaria de chegar?
Jeff: Isso é estar em uma zona de conforto! Muitas coisas marcaram, como estar no palco com Chitãozinho & Xororó… só que hoje, fazendo parte de tudo isso que falamos, da internet e da digitalização da música, tudo acontece e vira muito rápido.
Hoje, ficar na zona de conforto, dizer que está bem, você pode deitar achando que é o músico que mais trabalha e acordar sendo ninguém. Essa zona de conforto não existe na música, para nenhum profissional e nem para mim.
Se você estiver associado a somente um artista, esse cara pode perder espaço para outro e o seu nome provavelmente não estará mais em lugar nenhum. Isso serve para todos os profissionais da música. O cara que cuida das redes sociais do artista, o técnico de som, o iluminador… na música tem novidade todos os dias!
Meu amigo, muito obrigado por esse bate-papo que, com certeza, será mais um daqueles que servirá de inspiração para muitas pessoas que querem se tornar um profissional da música.
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