O #PapoDeMúsico dessa semana, é com o guitarrista e violonista, sul-mato-grossense, que, atualmente, acompanha o Almir Sater.
Soundcheck: Por que a música?
Guilherme: Não sei te dizer cara… comecei muito cedo. Com 7 anos já tocava violão e o motivo disso acontecer, não foi muito diferente da maioria das histórias de outras crianças.
A verdade é que eu queria uma guitarra, mas acabei ganhando um violão! Foi quando comecei a fazer aulas com o Carlos Colman, em Campo Grande… isso em 1982, e dai para a frente, a música sempre fez parte da minha vida!
Soundcheck: Carlos Colman foi o seu primeiro professor de música?
Guilherme: Aprendi a tocar com ele e com e o Orlando Brito. Lembro até hoje, eles tinham um espaço onde davam aulas na rua 25 de Dezembro, em Campo Grande.
“Foi ali, meu primeiro encontro e o meu primeiro contato com a música”
Inclusive, várias outras pessoas da minha geração, fizeram aulas com eles. Lembro do Rodrigo Teixeira, Rodrigo Sater… não vou começar a citar nomes por que essa lista vai longe! (risos)
Soundcheck: Hoje, qual é o seu instrumento?
Guilherme: O violão é o meu instrumento e hoje em dia, ainda mais, com certeza! Mas eu digo cordas… você pode ver, eu gosto de tocar instrumentos de cordas, como a guitarra e violão, de doze cordas.
Sou guitarrista mas o violão, hoje em dia, é o meu instrumento, devido ao fato do volume de trabalhos que eu faço com ele ser muito maior.
Mas tiveram outras fases na minha vida que eu toquei mais guitarra, ou violão de doze cordas… com o Almir Sater mesmo, logo que comecei a tocar com ele, fiquei por 2 anos com o violão de doze e só depois, a pedido do Almir, comecei a tocar violão de seis cordas.
Soundcheck: Quem foram suas referências musicais?
Guilherme: Em casa, sempre tive acesso a música boa. Meus pais sempre escutaram Ivan Lis, Tim Maia, Chico Buarque, Caetano Veloso, Ney Mato Grosso…
Eu te falo que Ivan Lins e Ney Mato Grosso, são os sons que eu lembro de ter tido um contato inicial muito forte e que me chamarem atenção. Até especifico para você… o disco do Ivan Lins, chamado “Novo Tempo”. Tinha esse vinil em casa, eu adorava e gosto muito, até hoje!
E a partir disso, comecei a ouvir muito rock’n’roll, como: Kiss, ACDC… e músicos brasileiros, como o Pepeu Gomes de quem tinha discos que eu achava demais, cara! Sempre foi e é influencia até hoje!
“Quando me perguntam qual o meu guitarrista brasileiro preferido,
eu mando Pepeu Gomes, sem pestanejar!”
Soundcheck: Quando decidiu se tornar um músico profissional?
Guilherme: Eu comecei a pensar em tentar ser um músico, ter a música como profissão, só depois dos dezoito anos, antes disso, não pensava em nada disso.
Tive uma infância normal, precisava ir para a escola, tirar nota, mesmo na época que eu já estava tocando. Nunca passou pela minha cabeça a não ser como um sonho.
Somente a partir dos dezoito anos, após ter terminado a escola, comecei a viver da música.
Souncheck: Como foi o processo de profissionalização?
Guilherme: Logo em seguida de terminar a escola, me mudei para Los Angeles para estudar na Musicians Institute e, aí sim, comecei a ver a música de outra forma.
Comecei a ter contato com grandes professores, e também ver a indústria da música como uma coisa que realmente existia… como um trabalho. Então, a partir desse momento comecei a ver que aquilo era sério.
Soundcheck: O que foi, para você, estudar fora?
Guilherme: Foram duas fases, estudando em Los Angeles. Fui em 93 e fiquei quase dois anos, onde eu fiz o GIT – Guitar Institute of Technology, que é o curso de guitarra e depois voltei em 98.
O Musicians Institute, que acredito que até hoje deva ser um caldeirão de pessoas, músicos de diferentes partes do mundo, como: Suécia, Japão, Itália… e você consegue ter um intercâmbio cultural muito grande.
Isso foi a primeira coisa que me fascinou. Independente da escola, o contato com as pessoas já me daria tanta coisa, tanta informação… foi demais! Foi uma fase fantástica da minha vida, que eu levo com muito carinho!
Soundcheck: Depois desse primeiro período estudando fora, como foi voltar para o Brasil?
Guilherme: Depois dessa primeira temporada nos Estados Unidos, voltei para Campo Grande, com a banda “Inverno Russo” e gravamos a música “Só eu sei” na coletânea “Meu Mato Grosso do Som”.
Depois viemos para São Paulo, com a banda um pouco desfalcada… mas, na época em 1997, não sabíamos o que estávamos fazendo e, mesmo assim, lançamos o disco do Belladona, que foi assinado pela Warner Continental.
Foi um disco que gravamos em uma estrutura muito legal, em fita de rolo e tudo mais! Um disco com um repertório muito bom. Já fazíamos um folk, misturado com rock, com country…
Soundcheck: Quando foi a segunda temporada nos Estados Unidos?
Guilherme: Depois que a banda se desfez, em 98, eu resolvi voltar para Los Angeles. Dessa vez para estudar Engenharia de Áudio e Produção.
Naquela época, o Brasil já tinha estrutura equiparável com o Estados Unidos, o que não tínhamos igual, era o ensino. Eu não teria como estudar, da forma que eu estudei, não sendo lá!
Eu tinha aulas de música, de várias formas. Teóricas e práticas em estúdio e ainda, tinha que cumprir horas como assistente dos meus professores em trabalhos reais, que aconteciam nos estúdios da escola e que todos os alunos eram obrigados a trabalhar e ter um mínimo de horas a serem cumpridas para se formar.
Depois voltei ao Brasil e comecei a trabalhar aqui em são Paulo em estúdios. Foi a época que eu trabalhei no Midas.
Soundcheck: Estudar fora do Brasil, te ajudou para trabalhar onde você já trabalhou?
Guilherme: O que facilitou, na época, foi pelo fato de que no Midas, usavam um console SSL, igual ao que tinha na escola onde estudava.
Lógico que te ajuda, pela facilidade de conhecer e trabalhar com equipamentos, mas não sei te dizer se faz a diferença… até por que, existem vários profissionais do áudio que nunca estudaram e que fazem coisas divinas. Essa é a grande verdade!
Quem trabalha com áudio, pode ter o melhor equipamento do mundo… lógico que precisamos ter boa conversão, bons monitores, bons prés… mas a ferramenta mais importante, sem sombra dúvidas, é o ouvido.
Soundcheck: Nesse período, trabalhando no Midas, participou de muitos projetos?
Guilherme: Na época, muitos projetos passavam por lá. Foi quando gravei alguns overdubs do “Quatro Estações – Ao Vivo” do Sandy & Junior, fui assistente do “Isso é amor” do Ira, engenheiro de gravação do primeiro disco do Tihuana… enfim, não consigo lembrar de todos os nomes. Lembro que tinham alguns sertanejos, pagodes… muita gente passava por lá, pelo fato de ser um estúdio grande.
Soundcheck: Quando surgiu a sua história com a Banda Naip?
Guilherme: Depois desse período em São Paulo, voltei para Campo Grande e começou a minha história com a Banda Naip.
Estava cansado de morar aqui em São Paulo, como já tinha saído de casa a muito anos… senti saudade da minha terra, da minha família e a banda foi uma consequência dessa minha volta, como já tocávamos juntos a tantos anos, acabamos trabalhando juntos.
A Naip, naquela época, foi uma banda que tocou muito. Lembro de meses que chegávamos a fazer 25 shows. E era uma banda que só fazia cover que tocava em festas, bares, boates… que me deu muita cancha, como músico, para mim e para todo mundo que fazia parte daquilo.
Soundcheck: Qual sua preferência, áudio ou guitarra?
Guilherme: O áudio para mim sempre foi uma paixão desde criança, junto com a história do violão.
Eu descobri com dez anos de idade, que se eu botasse dois k7 eu conseguiria gravar de um para o outro e comecei a fazer overdubs, e assim eu ia tendo canais infinitos… lógico, que era mono e a qualidade ia piorando, mas eu ainda criança, descobri isso!
Outra coisa que eu brincava quando era criança, com uns 10 anos de idade, era fazer programas de rádio. Eu botava os discos, gravava em um k7, eu mesmo falava, soltava o disco…
Então quer dizer, o áudio é uma coisa que sempre esteve muito presente na minha vida! E a partir do momento, que comecei a trabalhar com música, isso me ajudou. Dependendo da fase da minha vida, era 80% do meu tempo dedicado ao áudio. Algo que, hoje em dia, é diferente, pois passo a maior parte do tempo na estrada e em estúdio trabalho mais com mixagens!
Soundcheck: Como surgiu a parceria com o Guga Borba, que deu origem ao “Filho dos Livres”?
Guilherme: Nos conhecemos desde muito cedo, sei lá, com uns 15 anos de idade! E todas essas fases que já conversamos, o Guga sempre esteve presente.
Eu, na época, queria fazer um trabalho autoral e que não tivesse nada a ver com o trabalho que eu tinha na Naip e o Guga, também, queria gravar um trabalho autoral e acabamos nos juntando, desenvolvemos um conceito que agradou muita gente.
Então, o Filho dos Livres, surgiu dessa necessidade de colocar nossas canções na estrada.
Soundcheck: Foi um projeto que já surgiu com a intenção de fazer algo inédito com a cara de vocês?
Guilherme: Sempre fizemos da melhor maneira possível, de acordo com nosso gosto, claro!
Desde a capa, que fizemos com carinho, a escolha das cores… sempre prestando muito atenção no áudio… Naquela época, não se misturava muita viola caipira com rock, com vários outros elementos que trouxemos do country… então, fomos desenvolvendo isso de uma maneira natural, até soar da forma que achávamos que era o certo.
Passávamos dias, ouvindo aquilo, mudando coisas, fazendo ajustes até a gente achar que era aquilo.
O que aconteceu, foi realmente um encontro… as pessoas acabaram gostando daquelas músicas. Nunca foi pensado de forma mercadológica, estávamos fazendo arte e acabamos encontrando um nicho de mercado que nos acolheu muito bem. Tanto é que, lógico, dentro das nossas possibilidades, continuamos fazendo shows e loucos para gravarmos um disco novo.
Soundcheck: O que é, hoje em dia, tocar com o Almir Sater?
Guilherme: Não vou dizer que é um sonho, por que, sonhos são somente sonhos e isso é uma coisa real!
Também não posso te dizer que foi uma coisa que eu me preparei, por que eu não me preparei, acredito que foi um encaixe de coisas legais.
O trabalho do Almir, é muito conceitual, artístico… para mim, é um dos maiores artistas do Brasil. Adoro trabalhar com ele, tocar violão com ele e com o Rodrigo Sater, rola uma química muito interessante.
Por mais que eu faça vários shows, cada noite é única, acredito que isso seja a grande magia do trabalho do Almir. Sem falar nas novas músicas, do disco “Ar”, dele com o Renato Teixeira, que também tem entrado no repertório.
E estou muito feliz em poder participar dessa banda, hoje em dia!
Guilherme, muito obrigado por nos receber em sua casa e compartilhar com a gente um pouco da sua história na música. Vlw
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