Fomos recebidos por Conrado Goys, entre uma produção e outra, em seu estúdio, para esse bate-papo, onde ele nos conta um pouco de sua trajetória musical. Confira!
Soundcheck: O que te despertou para a música?
Conrado: Meus pais sempre ouviram música boa, mas na época meu interesse não era profundo. Ouvia coisas de rádio, aquela coisa de criança, adolescente né.
Em um belo dia, ainda muito garoto, quando acordei, me deu aquele estalo. Acordava todo domingo com meu pai escutando música. Ele gostava de tomar o café dele, botar os discos na vitrola e ficar lendo jornal.
E nesse domingo, acordei com meu pai escutando Beatles, aquela música entrou de outro jeito, engraçado, por que ele já devia ter escutado Bealtes outras vezes, mas aquele dia marcou. Lembro que sentei com ele, me interessei e começamos a conversar. Passamos o dia inteiro ouvindo música.
E aí, a partir desse dia, chegava da escola, ía almoçar e fuçar no baú de discos, descobrindo novos álbuns e passava a tarde ouvindo. Os domingos com meu pai, meu irmão e minha mãe, começaram ficar mais frequente e não demorou muito, com uns 11 para 12 anos mostrei o interesse que queria aprender algum instrumento e pedi para o meu pai comprar uma bateria. (risos)
Soundcheck: Seu início, foi com a bateria?
Canrado: Morávamos em apartamento e meu pai disse que me dava a maior força, mas não tinha onde colocar colocar uma bateria e se desse para escolher outro instrumento… seu pai agradece! (risos)
Pedi uma guitarra e ele disse que compraria um violão! E se eu achasse legal, mais para frente compraría uma guitarra.
Nessa época tinha vários amigos na escola que já tocava alguma coisa e eu não tocava nada. Comecei assim, pedia para um amigo ensinar alguma coisinha… um riff do Nirvana, um do Metallica, coisas bem simples, corda solta… e ficava treinando em casa, horas, horas e horas. Nisso, fiquei sabendo das tais revistinhas de música e eu acabava com toda a mesada nas bancas.
Então foi isso, começou uma parte da minha vida onde a música tomava a maior parte do meu dia e da minha vida. Meu pai vendo que eu estava gostando e super empenhado, me deu uma guitarra de presente. Que eu tenho até hoje, toco com ela e tenho maior carinho!
Soundcheck: Quem foram seus primeiros parceiros musicais?
Conrado: Meu irmão (Bernardo Goys), também entrou nessa, curtindo essa onda de música, começou a tocar contrabaixo. E ai é aquela coisa de escola… tive a primeira banda com meu irmão e um baterista.
Um amigo do meu irmão comentou que na aula de inglês tinha um cara que tocava bateria, e daria para formar uma banda… conversamos e marcamos de nos encontrar. E sabe quem que era o batera? Thiago Rabello “Big”! Foi o primeiro baterista que toquei na minha vida, toco até hoje e não abro mão! Pra mim, um dos músicos mais fantásticos que já toquei. A agente cresceu junto, e virou uma família.
O Thiago morava perto de casa e lá tinha um quartinho onde ficava a bateria montada. A gente cabulava aula de inglês, cabulava tudo e ficava a tarde inteira, aprendendo tocando, compondo, brincando… o pai do Big (Luiz Rabello), como era músico, sempre dava uma “puta” força pra gente e nos mostrava sons, como: Tower Of Power, Marvin Gaye, Led Zeppelin, The Purple… foi uma “puta” escola!
Depois formamos uma banda com a Tatiana Parra, Daniela Mônaco, Ricardo Barros… e ganhamos o Prêmio FICO, com uma música autoral. Isso em 96, com uns 16, 17 anos.
Soundcheck: Quem foram seus mentores?
Conrado: Eu já tinha feito algumas aulas quando moleque, para aprender música. Quando já estava com a mão boa, tirando algumas coisas mas sem um conhecimento formal, meu irmão estava fazendo aulas de baixo com o Celso Pixinga, aproveitei e fui conversar com ele, para pegar aulas de harmonia, improvisação….
“Esse foi um grande pai musical, me acolheu de um jeito…
ele é assim, com um coração gigante e incrível.”
O Ulisses Rocha, é um outro pai musical… que quando eu decidi entrar na faculdade, precisava fazer uma prova muito específica e de um conhecimento muito mais formal de música, escrita e teoria. Também queria estudar um pouco mais de violão, pegar um pouco mais de mão direita, e fui estudar com ele.
“Paixão total pelo Ulisses, ele nem sabe, não tem noção do quanto sou grato e o quanto eu aprendi nesse convívio com ele.”
Com ele comecei abrir um pouco a cabeça, relacionando o lado humano com a música. Comecei a juntar as coisas e tudo que eu já tinha estudado antes. Teve aulas que nem pegava no violão, ficávamos conversando sobre música, arranjo, composição, timbres, comportamento… sobre tudo!
Soundcheck: Você cursou música?
Conrado: Paralelamente eu fiz uma faculdade de música, na época em que comecei a tocar com o Pedro Mariano. Foi onde conheci grandes amigos e parceiros de trabalho que tenho até hoje.
A faculdade é muito legal por que lá você expande o universo musical, até então bem limitado ao que você ouve ou gosta de tocar. Além disso, você convive com pessoas com mesmo objetivo: viver de música.
Soundcheck: Quando foi seu primeiro trabalho profissional?
Conrado: O meu primeiro trabalho profissional foi com o Pixinga. Em uma das aulas, ele me perguntou: – O que vai fazer a noite? Me deu o endereço de um estúdio, disse que estava gravando o seu disco e queria que eu gravasse guitarra em uma das música.
Fiquei o dia inteiro “me borrando”, não sabia o que fazer… mas ele me ensinou muito isso, os desafios você tem que enfrentar, não pode ficar nessa, de se esconder e tal. Ele me ensinou muito dessas coisas! Eu fui, gravei e deu tudo certo. Fiquei super feliz… foi maravilhoso!
Mais para frente comecei a tocar no grupo de música instrumental dele e fizemos vários trabalhos juntos. Viramos grandes amigos, de ir na casa dele conversar de música e quando chegava um CD/DVD novo ele me chamava para ir lá assistir.
Nesse meio tempo, sempre estive gravando as “produças” dele… e em 2000, quando ele fez a direção musical do Fat Family, montou a banda e me convidou. Foi a minha primeira gig, acompanhando artistas. Fiquei lá até 2002.
Depois um outro grande parceiro, um presente que ganhei na minha vida é o Otávio de Moraes (produtor), me chamou para fazer alguns subs para o Chico Pinheiro na banda do Pedro Mariano. E depois de um tempo após os ensaios, o Chico foi fazer outras coisas e eu assumi o trabalho com o Pedro Mariano, onde estou até hoje. Gravei alguns discos, um eu coproduzi e fiz os arranjos. Nesse último, com quarteto e orquestra fui um dos arranjadores… já tinha feito coisas para quarteto de cordas, mas, para formação grande, nunca.
Soundcheck: Como é trabalhar com Pedro Mariano?
Conrado: O Pedro é um cara que tenho enorme carinho e admiração. Aprendi e aprendo muito com ele. Ele sempre confiou muito em mim e no meu trabalho e por isso nossa relação é baseada em muita afinidade, amizade e profissionalismo. Através do trabalho com ele, trabalhei com César Camargo Mariano e conheci o Marcelo Mariano, que é um parceiraço. O trabalho com o Pedro me abriu muitas portas! Quando entrei lá, tinha 21 anos. Foi um marco na minha vida por que me abriu um leque, comecei fazer muita televisão, muitos shows, conhecer muitos músicos e fazer contatos… conheci o verdadeiro mercado da música e a partir daí, minha vida profissional começou a caminhar mais autonomamente.
Através do Pedro tive oportunidade de poder fazer arranjos para o Jair Rodrigues, Emílio Santiago, Diogo Nogueira… em um projeto em homenagem a Elis Regina.
Soundcheck: Em algum momento você direcionou sua carreira para trabalhar com esses grandes nomes da música brasileira?
Conrado: Acredito que sim! Sempre me fascinou esse lance de decifrar o que o artista gosta e como quer dizer algo, dosar o quanto posso contribuir com o meu olhar… enfim! Acredito que a versatilidade, não seja apenas você assimilar e tocar vários estilos. Adoro pensar como um ator estuda um personagem, saca?! É demais, porque saímos várias vezes do nosso conforto, e assim vamos sempre descobrindo timbres, jeitos de tocar, jeitos de se comportar dentro de um contexto… isso me excita!
Soundcheck: Com tantos trabalhos, teve algum inesquecível?
Conrado: Teve, sim! Um deles, é o que estou fazendo agora, com o César Camargo Mariano, ano passado gravamos dois discos, um deles com convidados maravilhosos.
Nesse meio tempo, fiz um trabalho muito importante de direção musical com a Luiza Possi, produzi o seu DVD “Seguir Cantando”. Uma parceria intensa, onde ela participou de tudo, deu ideias e foi a diretora geral do DVD, pude também trabalhar com a Ivete Sangalo, na música “O Circo Pega Fogo”.
Soundcheck: Como entrou para o mundo da produção?
Conrado: Foi uma coisa meio natural… acho que pelo fato de trabalhar bastante em estúdio comecei a me ligar também em outras coisas. Fui dono de estúdio durante 8 anos, tive uma produtora e fui correr atrás, fui estudar. Sempre fui muito curioso com esse mundo, um mundo diferente… difícil até de explicar! São afinidades, quando ouço qualquer disco, me ligo muito nos arranjos, de como o arranjo se concebeu, as frequências em que está trabalhando, o que tem a mais, o que não tem… mas foi uma questão de afinidade mesmo!
Soundcheck: Toda essa versatilidade, te ajudou?
Conrado: Acredito que sim… o fato daquela coisa que eu tinha falado antes, sempre gostei muito da versatilidade, dos personagens… isso naturalmente acabou me levando para lugares muito diferentes. Me levou para palco como sideman, para fazer som instrumental, me trouxe para o estúdio também como sideman, produtor e arranjador, para fazer trilhas de cinema, publicidade, teatro… me levou para esses lugares, como trabalhar com César Camargo Mariano… gravar o disco mais recente do Edson & Hudson, entendeu? Teve esses extremos que eu acho muito legal!
“Sou feliz assim. Essa é a busca da felicidade,
dentro do que você se propõem a fazer!”
Soundcheck: O que foi para você, produzir o mais recente disco do Dani Black?
Conrado: O “Diluvio” foi um presente! Primeiro por que, além da amizade que eu tenho com o Dani, também sou muito fã! Desde a primeira vez que eu vi ele tocar, fiquei chapado com o talento dele, com o jeito diferente de tocar guitarra, de cantar e como aquilo formava uma unidade muito maravilhosa. Fiquei muito surpreso e feliz quando ele me procurou!
Ele queria a mão de um guitarrista no disco. Queria um cuidado especial com a sonoridade, timbres e com o seu rendimento no estúdio.
Isso foi demais por que o Dani me proporcionou coisas que eu nunca tinha feito em estúdio, buscar sonoridades que nunca tinha tentado antes.
Ele me disse que queria um disco pop, com sons grandes, cordas e muitas guitarras. Com isso comecei a trazer referências para ele e fomos nos conectando musicalmente. O que se torna muito mais fácil para continuar o trabalho, para colocar a mão na massa.
Soundcheck: Como foi o processo de produção do disco?
Conrado: Foi intenso, trabalhamos durante muito tempo juntos!
Fizemos todos os arranjos e pré produções. Programei tudo, bateria, baixo, teclados, vozes e violões guias, guitarras… e algumas dessas guias, foram para o disco, nem precisou refazer.
Foi tudo muito legal, por que o Dani queria uma coisa daquele tamanho mesmo, faixas com sonoridades de cordas grandes. Ele queria um disco com esse cuidado de produção… de manufatura. Um artista que você tem afinidade, é muito fã e te dá uma liberdade para produzir tudo com calma, vivendo o momento e com tempo de maturar as coisa. Quando você trabalha com esse patamar de produção, é muito bom!
Soundcheck: Quais os frutos de todo esse legado?
Conrado: Acredito que quando se faz algo com verdade, paixão, muita dedicação e envolvimento, pode servir ou significar algo para alguém. Quando ouço de alguma pessoa que se emocionou ouvindo algo que fiz, piso nas nuvens… Não há retribuição maior!
“A arte é isso, dentro de você não vale nada!”
Ainda tenho muito que fazer, sou inquieto e adoro ser inquieto! Esse é meu parâmetro, minha referência… ouço música o dia todo, fico fuçando até as cinco da manha na internet, um som que leva a outro, que leva a outro… Uma semana sem ouvir, pelo menos três discos novos, já acho que tem alguma coisa errada!
Soundcheck: Você é desses músicos que pesquisa muito?
Conrado: Todo profissional da música tem que ouvir muita música, tem que absorver!
Tem que saber o que esta acontecendo, faz parte do cotidiano do profissional. Não importa se é ruim, se é bom… sem juízo de valor! Tem que saber o que esta rolando.
E saber o que esta rolando hoje, não é só ligar a rádio ou a TV. Tem que procurar na internet, pesquisar de tudo. Se você pesquisar e querer ouvir qualquer tipo de som, é melhor para você.
Soundcheck: Alguma novidade para esse ano?
Conrado: Devo retomar com meu grupo e começar a gravar, ainda nesse primeiro semestre. Também vou fazer a trilha de um filme sobre o desastre ambiental de Mariana, um filme de realidade virtual.
E novamente estarei no Festival de Trancoso, com o Cesar Camargo Mariano e Bobby McFerrin.
Foto – Daniel R. N. Lopes
Conrado, agradecemos pelo bate papo e aguardamos curiosos as novas produções.
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Matéria inspiradora, esclarecedora e de excelente conteúdo!