Não poderia começar o ano, sem entrevistar esse fenômeno, que abriu o coração e contou detalhes, que realmente fazem a diferença quando o objetivo é levar o amor para as pessoas.
Soundcheck: Em qual momento você acredita que o talento com as letras começou a aparecer?
Rafa: Na verdade, comecei escrever desde criança, mesmo sem saber que eu tinha esse talento. Com 10 anos de idade, já escrevia as primeiras parodias para as gincanas da igreja.
Assim eu comecei escrever uma coisinha aqui, outra ali… sem pretensão nenhuma. Não imaginava que um dia eu ia viver disso. Na época eu ainda queria ser jogador de futebol! (risos)
Foi passando o tempo, comecei a aprender tocar violão pra tocar na igreja, depois, junto com alguns amigos, montei uma banda pra gente tocar nas outras igrejas e nas praças da nossa cidade… Foi uma fase muito legal. Isso com uns 15 anos, mas ainda assim, achava tudo normal.
Soundcheck: Na época já tinha a pretensão de, um dia, viver de música?
Rafa: No começo era um hobby. Eu estudava de manhã, trabalhava em uma barraquinha de caldo de cana durante a tarde e como o dono era o meu amigo, ele deixava eu sair, rapidinho, para ir no conservatório e voltar. Época que eu fazia as aulas de violão clássico.
Só fui começar a trabalhar mesmo com música com 16 ou 17 anos de idade, quando comecei a dar aulas de violão… e aí quando o cara começa a trabalhar com música, já era!
“Depois que você prova, não tem como largar.”
É só começar a trabalhar com música que você esquece do mundo. Fui um bom aluno até o meio do último ano da escola, mas aí comecei a tocar na noite, fazendo voz e violão. Quem disse que eu quis fazer faculdade? Eu só pensava em cantar e tocar violão o tempo todo. (Risos)
Soundcheck: Qual foi o momento que você começou a escrever suas próprias músicas?
Rafa: As coisas foram acontecendo… Quando eu já estava tocando em alguns bares da minha cidade, eu percebi que, se eu ficasse por lá, não teria acesso a melhores oportunidades, aí vim para São Paulo, de carona com um tio meu.
“Eu tinha 18 anos de idade, 17 reais no bolso, e a ingenuidade de achar que seria fácil.”
Chegando aqui não consegui nenhum lugar para tocar e tive que procurar emprego fora da música. Primeiro trabalhei numa lanchonete no Shopping CenterNorte, depois consegui um emprego de vendedor e fui conseguindo me manter aqui em São Paulo, sempre sonhando em voltar a viver de música. Até que 2 anos depois, já com 20 anos, o dono da empresa onde eu trabalhava, por que eu tenho uma gratidão enorme, decidiu ser meu empresário e propôs que eu gravasse um CD. Assim, sem eu e nem ele conhecer ninguém do meio, na cara e na coragem.
E quando já estava tudo certo para gravar o disco, eu me dei conta de que eu não tinha música para gravar. Foi quando comecei a fazer as minhas primeiras músicas. Sozinho mesmo, antes de conhecer os parceiros que tenho hoje.
Até então eu não imaginava que um dia eu ia escrever uma música e alguém famoso ia gravar. Nem passava pela minha cabeça que poderia viver disso um dia.
Soundcheck: Você tem a gravação da primeira música que você escreveu?
Rafa: Tenho. Mas deixa aqui guardadinha, cara. Não me mata de vergonha. (risos)
Na verdade, escrevi essa primeira música para esse trabalho, que teve um investimento mínimo, com uma qualidade de áudio baixa e as músicas eram de quando eu estava começando.
Soundcheck: Como foi o processo de se tornar um compositor, vamos dizer, profissional?
Rafa: Teve um cara muito importante que Deus colocou na minha vida no começo de 2013, o Samuel Deolli, que é um grande compositor e um grande amigo que a música me deu, ele me aconselhou muito no começo, inclusive foi ele quem me convenceu que eu poderia viver das coisas que eu escrevia. Com esses incentivos, comecei a empolgar. Mas, ainda estava em processo de aprendizagem e entendendo até mesmo o meu próprio funcionamento, até porque, cada autor funciona de um jeito.
O Samuel foi o cara que foi me falando para ir lapidando as musicas, qual parte já estava legal, e qual ainda não estava… até que um dia ele me disse: ‘Mano, você já pegou o jeito. Vai acertar a primeira a qualquer momento’.
Aí empolguei mais ainda, porque eu sempre levei muito em conta tudo que ele dizia e, realmente, minhas musicas começaram a entrar em alguns projetos.
Samuel foi meu professor, hoje tenho a alegria de ser parceiro dele em algumas músicas.
Soundcheck: Encontrou alguma dificuldade para entrar no mercado?
Rafa: É muito louco porque não tem uma regra. Até hoje cada música acontece de um jeito.
Tem música que as vezes o artista ouve na voz de uma dupla de menor expressão, aí vem atrás da música, outras chegam pelo produtor, tem música que o parceiro que fez contigo mostra para alguém e entra no projeto… é muito doido!
Em alguns casos, por ter mais proximidade e até mesmo uma certa amizade com alguns artistas, sempre mostro as coisas que eu faço.
Um exemplo disso é o que acontece com o Marcos & Belutti, que rola uma sintonia muito massa, muita coisa que eu faço é a cara deles, as vezes até sem querer. Cada música vai saindo de um jeito.
Mas sobre o que você perguntou: entrar no mercado, eu acho que a maior dificuldade é fazer com que os artistas te ouçam. Quantas músicas você acha que um Bruno & Marrone, um Fernando & Sorocaba, recebe por dia?
O que faz eles ouvirem a sua música? Entendeu por que é difícil?
Se o artista tem um tempinho livre para ouvir composições, ele vai escolher ouvir, geralmente, quem já acertou alguma música ou um autor que ele já conhece. Então, é por esse motivo que eu acho, o começo, um pouco difícil.
Soundcheck: Como conseguiu quebrar essa barreira?
Rafa: Eu tenho uma parceria de um bom tempo, com o Lucas Santos, que se tornou meu melhor amigo e o parceiro com quem eu mais tenho músicas, entre elas “Tão Feliz” e “Casa Branca”. Ele era editor de áudio na FS Produções Artísticas e tinha contato com os artistas do escritório… até que um dia ele chegou até o Marcos e disse que estava fazendo umas musicas com um parceiro e queria mostrar para ele.
O Marcos escutou, gostou das musicas e da gente cantando, e disse que a linha que estávamos escrevendo combinava muito com eles. Marcos & Belutti foi a dupla que abriu as portas pra gente.
“Foi a primeira música gravada por um artista grande. Chorei… nossa!”
Acabaram gravando nossa música a “Tão Feliz”, que deu nome a turnê, e é o título do último disco da dupla… a música que mudou minha vida!
E ainda tivemos mais 4 músicas gravadas nesse álbum; ‘Linhas’, ‘Ponto Fraco’, ‘Queda Livre’ e ‘Contra o Mundo inteiro’. Depois disso, muitas outras portas se abriram pra nós.
Soundcheck: Como é o seu processo de criação?
Rafa: É bem espontâneo. Só funciono quando não estou pensando em mais nada. Preciso estar completamente desligado do mundo. Aí tem espaço pra alguma ideia aparecer, e elas aparecem do nada. Depois disso eu vou tentando viver a cena.
“Silencio o celular, desligo tudo… só uma luz baixa. E vou criando.”
Não sei compor com um tema pré-estabelecido. Vou fazendo, às vezes, a partir de um riff, dependendo do clima vem só o começo da música… aí vou tocando, fazendo outra frase, tudo com um carinho muito grande. Não sou do tipo que fica forçando e não gosto de ficar com nenhuma dúvida. Enquanto estou com dúvida se aquilo é legal eu não me contento.
“Tenho que ser o primeiro a acreditar. Se eu não sentir a música que eu estou fazendo, com certeza vai ser mais difícil o artista sentir e depois o povo sentir”.
Lógico que eu também não consigo compor todos os dias e chego a ficar um mês sem fazer uma música, mas estou sempre preparando o coração. Tenho que estar bem com as pessoas, em paz, com a consciência sempre limpa e bem comigo mesmo.
Acho que o melhor amigo de um autor é um coração cheio de amor. Tento manter o meu sempre cheio…
Soundcheck: É diferente quando você está escrevendo em parceria?
Rafa: Eu gosto muito. No meu caso, que gosto de compor em silêncio, pensando com calma, sem pressa nenhuma para terminar a música, às vezes, infelizmente, não consigo compor com algum autor que eu admiro, mas que funciona de outra forma. Essa ‘calma’ é uma característica minha e também dos meus parceiros com quem eu mais escrevo. Acho que dá certo por isso!
Escrever em parceria ajuda muito, às vezes você tem uma ideia legal, mas ainda não está enxergando e o seu parceiro já está vendo e faz você começar a acreditar. Sem falar que cada um trás uma coisa diferente do que você tem e a soma de energia de duas ou mais pessoas com o mesmo objetivo também conta muito.
Sou grato a Deus por ter parceiros talentosíssimos.
Soundcheck: Em qual momento você percebeu que estava fazendo a coisa certa?
Rafa: Compor com o Bruno Caliman, foi um negócio que mexeu comigo.
Posso citar muitas coisas que me marcaram e que me fizeram chorar de emoção, e um dos momentos mais marcantes, sem duvida nenhuma, foi escrever com o Bruno Calimam, que é a maior referência que eu tenho. É mais normal ter algum intérprete como grande ídolo, mas por ser autor e ver como é lindo e inexplicável o que fazemos, não tem como o meu maior ídolo não ser um autor, que na minha opinião, é o maior do Brasil, além de ser uma pessoa incrível! Caliman é gênio!
Soundcheck: Quais foram esses outros momentos marcantes?
Rafa: Algum desses momentos marcantes, foram: a gravação do DVD Clássico do Chitãozinho & Xororó e Bruno & Marrone, quando gravaram “Você me Trocou” – que escrevi junto com o Cristian Ribeiro – foi algo que eu não tinha a mínima pretensão que um dia pudesse acontecer, foi além do que eu imaginava.
Ah… depois que acontece podemos contar. No réveillon de 2015 para 2016, eu pedi para Deus que uma música minha chegasse ao primeiro lugar no nas rádios. Pedi, mesmo, de joelho!
O ano foi passando e no dia 7 de julho o Fernando & Sorocaba lançou “Casa Branca” que foi a primeira música minha que bateu primeiro lugar no Brasil. Chorei igual criança!
Depois disso, outras 5 músicas também alcançaram o primeiro lugar no decorrer do último semestre, graças a Deus, e continuou sendo muito especial, mas eu acho que a maior mudança numérica que existe é do 0 pro 1.
A ‘Casa Branca’ é um pouco mais especial pra mim por ter sido a 1ª a chegar em 1º.
Soundcheck: Em vários projetos, ano passado, tinha alguma música sua. Como foi 2016 para você?
Rafa: Tudo que eu plantei a vida inteira, eu te digo que muito foi colhido em 2016. Foi um ano que comecei o ano pedindo para ter uma música em primeiro lugar e Deus me abençoou com 6 músicas em primeiro lugar.
Cheguei a ter 4 músicas entre as dez mais tocadas no Brasil ao mesmo tempo. Sabe aquelas coisas de você se perguntar: como assim? (risos)
Foi um ano incrível, divisor de águas e que Deus me abençoou muito.
O engraçado disso tudo é que foi um ano que começou com poucas possibilidades. O Bruno & Marrone não conhecia a “Você me Trocou”, eu ainda não tinha escrito, junto com o Ruan Soares e o Michel Alves a “Deixa a gente Quieto”, que escrevemos em março. O Fernando & Sorocaba não tinha gravado a “Casa Branca” e varias outras músicas eu ainda não tinha escrito.
Foi um ano que comecei no escuro, mas que Deus iluminou, demais!
Soundcheck: Qual mensagem você pretende passar através das suas músicas?
Rafa: Cara, quero mexer com a vida de alguém, de alguma forma!
Conheci minha namorada porque o Caliman compôs a “Domingo de Manhã”. Por causa dessa música, que ela escutou no rádio, foi no show do Marcos & Belutti e lá nos conhecemos.
Então, às vezes a nossa música faz isso. Ela tem esse poder de unir um casal, de conciliar, aconselhar…
“Vejo que tudo isso que nós fazemos, como uma missão”
Vejo como algo espiritual, de verdade! Acho tudo que escrevemos vai servir para a vida de alguém e a minha maior motivação é levar uma coisa boa, uma mensagem para as pessoas.
Quero levar amor, porque eu acredito que todos os problemas do mundo são por falta de amor! Então se você tem esse o dom para falar disso, Deus quer que você faça bastante.
Cada música que eu falo de amor, de reconciliação, de um casal que se conhece, de um pedido de casamento é para motivar as pessoas a se amarem. Minha maior motivação é essa!
“Dedico a minha vida, como autor, para falar de amor”
Quando estou escrevendo, penso que aquilo vai servir para alguém. Não penso em quem vai gravar, ou quanto aquilo vai me dar.
Soundcheck: Quais seus objetivos para esse ano?
Rafa: Já tem algumas novidades, e graças à Deus, não vou começar o ano no escuro como comecei em 2016. Mas, mesmo não começando no escuro se for a metade do que foi em 2016, já esta bom pra caramba! (risos)
Tem a “Um Centímetro” que o Jeferson Moraes gravou com o Jorge & Matheus… acredito muito na música e no artista. Tem a “Nessas Horas”, uma música que está entre o top 3 da minha vida, que o Matheus & Kauan gravou. Tem bastante coisas legais vindo por aí!
——
Obrigado, meu amigo!
Confesso que não tinha uma historia mais adequada para começar um ano, do que a sua. Espero ter conseguido transmitir todo o amor que você leva pelo mundo nessa entrevista. Foi maravilho nosso, bate-papo! Vlw
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