Fomos bater um papo com o Bruno Villa Maior, guitarrista e produtor musical, para conhecer um pouco desse universo que muitas vezes não enxergamos, o da produção de trilhas sonoras, para publicidade, teatro, cinema…
Soundcheck: Como surgiu seu interesse pela música?
Bruno: Sou de uma família que não tem músico, então foi um caminho bem louco.
A música foi aquela coisa de colégio, com uns 14 anos, junto com os colegas nas rodinhas de violão…. Eu era uma criança que não parava muito tempo em nada, até que quando comecei a conhecer esse universo da música, gostei tanto a ponto de querer viver disso, ter como uma profissão.
Soundcheck: Foi nessa época que surgiram as primeiras bandas?
Bruno: Bom, eu comecei quase que profissional, por que o período que eu estava estudando, aprendendo as primeiras notas ainda estava brincando com a molecada e tal. Na sequência, com uns 16 anos, eu entrei para uma banda de Metal que já era um pouco conhecida e chegamos até a sair em algumas coletâneas na Europa.
“Estive lá mais pela experiência de tocar em uma banda do que pelo fato de ser um fã de Metal”
Foi a minha primeira oportunidade de entrar em uma banda legal e com uma galera que me identifiquei. Foi ali, também, que aconteceu meu primeiro contato com estúdio.
Soundcheck: Você sempre esteve certo que se dedicaria a música?
Bruno: Eu sempre tive isso muito claro na minha cabeça, pode ter sido inconsequente da minha parte, fui de cabeça. Hoje eu peso, sou mais “medroso” mas nunca tive dúvidas que era isso mesmo que eu queria.
“A partir do momento que a música entrou na minha vida, eu já sabia que era isso que eu queria fazer e que iria até o final na minha vida fazendo”
Por isso digo que pode ter sido algo inconsequente. Como falamos no início, não tinha ninguém da minha família na música e com isso, eu não tinha ideia de como seria o caminho, precisei descobrir sozinho e sem muito apoio da família.
Soundcheck: Quando foi que começou a entrar em um cenário mais profissional?
Bruno: Como estava muito focado em viver disso, logo depois dessa banda fui procurar algum trabalho e me enturmar com pessoas que já eram profissionais, como o Alex Cavalheri, Jerry Espíndola… foi assim. E com meus 16, 17 anos, surgiu meu primeiro trabalho, acompanhar uma dupla sertaneja.
A estratégia que eu sempre tive foi conhecer quem realmente trabalhava com isso. Como eu já era muito fã de música, já admirava algumas pessoas que trabalhavam com isso na minha cidade. Com isso, comecei a me aproximar dessas pessoas, para ter mais contatos, saber como era esse mundo e de repente, conseguir algumas gigs e indicações.
Soundcheck: A diversidade musical que adquiriu durante sua carreira, te ajuda hoje em dia?
Bruno: Com certeza, ainda mais por hoje ser um trilheiro preciso conhecer um pouco de tudo, por que eu não sei qual será a próxima trilha, quais as referências que vou precisar.
“Gosto daquilo que fala mais comigo, algo para se divertir, vamos dizer assim”
Eu gosto disso e acho que a música não tem que ter barreiras ou limites. Um dia você acorda mais Jazz, no outro mais Rock… não sei, as pessoas têm que ter essa liberdade de conhecer tudo sem se prender a rótulos.
Soundcheck: Sempre teve muitas referências?
Bruno: Pela minha profissão, eu até precisaria conhecer muito mais coisas do que eu conheço, mas é que quando eu descubro algum som que gosto muito, acabo escutando aquilo… fico sei lá, uns seis meses ouvindo só um artista. (risos)
Hoje estou mais aberto até porque com o volume de trabalho, não tem como me prender tanto e preciso, pelo menos, dar uma passada geral.
Mas mesmo assim, ainda escuto muitas coisas das antigas, alguns guitarristas de jazz, como o Pat Martino, sons mais pop, como Michael Jackson que talvez seja a minha primeira referência.
Soundcheck: Como surgiu o gosto pela produção musical?
Bruno:Desde o começo, tive essa curiosidade. Eu queria fazer a coisa por completo. Tentava tirar as músicas de ouvido, ou com aquelas revistinhas e na hora de tocar, não era a mesma coisa, faltava a produção. (risos)
Então, sempre fui ligado nisso. Escutava os discos de fone, para sacar os paranauê das mixagens. Já estava ligado nos sons que tinha de um lado e do outro. E desde sempre, quis saber como é que fazia tudo isso.
Soundcheck: Quando você começou a fazer suas produções?
Bruno:A oportunidade de começar a produzir veio um pouco depois. Eu queria desenvolver os projetos que eu tinha na minha cabeça, as minhas próprias ideias, mas sem precisar de ninguém.
Com isso, caí de cabeça nas produções e comecei a me dedicar em tipos de captação, mixagem, acústica… tinha que dar um jeito de sozinho, consegui apresentar uma ideia já quase pronta e foi aí que entrei com tudo.
Soundcheck: Como surgiu a primeira oportunidade para trabalhar em estúdio?
Bruno:Uma das minhas primeiras oportunidades, foi com o Geraldo Roca, onde eu fui contratado como técnico de estúdio, por onde fiquei por quase um ano de muita loucura e muito aprendizado.
Depois tive várias parcerias com o Alex Cavalheri “Fralda”, como somos amigos, rolava alguns projetos musicais, bandas… sempre estávamos fazendo alguma coisa juntos.
Soundcheck: Quando você decidiu se dedicar somente a suas produções?
Bruno:Minha grande paixão na musica sempre foi essa. Cansei de bares, tudo que acontecia no bar era motivo para eu reclamar e achei que era melhor parar. Já não aguentava mais nem montar meu set. (risos)
Até curtia fazer as gigs nos bares, mas de um tempo para cá, fui perdendo o gosto, vendo que as coisas estavam ficando na mesma e tudo era motivo para me aborrecer. Comecei a ver que eu gostava mesmo de fazer isso – produção musical – ficar quebrando a cabeça, para fazer uma música, chegar a sons diferentes… percebi que isso era o que realmente eu sempre gostei.
Eu nunca deixei a guitarra, mas precisei me envolver mais com outros instrumentos, me dedicando um pouco mais ao piano, contrabaixo, me dedico aos arranjos para cordas que eu adoro… então precisei dividir meu tempo com a guitarra, o violão e com todas essas coisas.
Soundcheck: O mercado publicitário, estava em seus planos?
Bruno: Desde quando estava em Campo Grande, já via esse potencial na publicidade. Eu via que era a única maneira de tirar um sustento mais bacana sem ser tão pesado, como vejo meus colegas que vivem na estrada… é desgastante demais. E aqui em Sampa, começou uma série de coincidências.
“Foi uma sequência de coisas boas que fizeram me consolidar nesse mercado das produções de trilhas sonoras”
Cheguei aqui, perdidasso, com pouca grana… conheci o Paulo Lepetit, que me deu uma oportunidade de trabalhar em uma gig – que fazia alguns eventos corporativos para uma agência – lá conheci o dono dessa agência que ficou sabendo do meu trampo e tudo começou assim.
Soundcheck: Hoje, você trabalha exclusivamente com o mercado publicitário?
Bruno:O foco é a publicidade, mas já fiz trilhas para outras mídias, como: feiras interativas, eventos, coreografias… Mas tudo isso, de certa forma, é publicidade por que é para promover alguma coisa, um produto ou um serviço.
Tive a sorte de ter experiência em vários formatos, como cinema, seriados… não tenho medo de encarar nenhum projeto.
Soundcheck: Como é o processo de produção de uma trilha, vem tudo detalhado em um briefing?
Bruno: Cada trabalho é uma aventura. Tem trabalho que o cliente já te conhece e sabe do seu potencial, e você também já sabe o que ele quer. Mas somos nós, que precisamos sacar quais as necessidades, porque muitas vezes as pessoas não sabem direito o que querem.
Se eu pego um briefing meio confuso, que é algo normal no dia-a-dia, eu não opto pelo caminho de ficar apertando a agência para me mandar algo mais claro. Eu mesmo procuro entender e faço algo em cima disso. Aí com algo mais concreto, eles têm mais condições de opinar. Só a experiência te dá isso, entender o que as pessoas querem.
Eu penso que a agência me contratou para resolver um problema, não para eu ficar levantando mais questões.
“Se você tiver disposição, tudo é possível para quem gosta de inovar”
As vezes vem um briefing de uma trilha quadradinha, e mesmo assim é possível colocar alguma coisinha a mais.
Soundcheck: Nas suas produções para publicidade, você utiliza samplers ou também grava algumas coisas com músicos?
Bruno:Hoje em dia, isso fica muito na mão do produtor. Eu procuro gravar a percussão e bateria com músicos, que é algo que muda tudo, faz muita diferença pra mim.
Então é assim, se o projeto tem verba para chamar um único músico, eu chamo um batera/percussionista que, na minha opinião, muda muito… dá uma grandeza para o trabalho. Os outros instrumentos eu faço tudo por aqui, quando o orçamento não me permite, utilizando samplers, ou o que eu tiver para usar.
Quando vou gravar um violão, por exemplo, simplesmente não só microfono o violão ou ligo em linha, eu gosto de tirar um som diferente a cada projeto. Isso vale a pena por que são esses detalhes que fazem a diferença.
Soundcheck: Quais seus próximos objetivos como produtor musical?
Bruno: O profissional de áudio está em todas, o áudio é de um valor inestimável porque ele que muda tudo, dá vida a um evento, um filme, uma peça…
E quero trabalhar mais com o cinema, fazendo trilha para curtas, longas… talvez por ser meio que a minha paixão pelo cinema e trilhas sonoras. Mas gostaria que fosse uma curtição que desse certo, por que, hoje, meu trabalho mesmo são as trilhas para a publicidade.
Estou muito feliz fazendo o que eu faço, mesmo não sendo algo muito planejado, mas a vida acabou me levando para isso e estou muito realizado com meu trabalho.
Brunão, muito bom bater um papo contigo, meu brother! E melhor ainda mostrar que nem só de palco vive um músico, pelo contrário, o mercado musical é gigante cheio de oportunidades que muitas vezes a maiorias das pessoas conseguem enxergar. Sucesso, sempre!
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